O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, outubro 31, 2008

BEM VISTO POR UMA MULHER...DE CORAGEM!


VISTO DO DEUTERONÓMIO


Fernanda Câncio

Jornalista - fernanda.m.cancio@dn.pt

Aconteceu um destes dias. "Os extremistas islâmicos da Somália executaram uma jovem de 23 anos, por lapidação. A mulher foi acusada por adultério na localidade Kismayu, no Sul do país."


A mulher não tem nome, quem a matou também não, a história tem dez linhas. Não há imagens nem entrevistas, nada daquilo que faz "o interesse humano". Não é pois uma grande notícia, morrer à pedrada. Pedra após pedra da mão de gente que ainda ontem talvez nos dissesse olá, que ainda ontem era um vizinho ou um primo ou um irmão, que ainda ontem julgávamos amigo. Mas morremos ali, cercados como por lobos, golpe após golpe. Nenhum profeta para entrar no círculo e suster o massacre com uma parábola, nenhum sinal divino, nenhum raio a fulminar os monstros. E depois nenhum julgamento, nenhum castigo.

É como se estas mulheres nunca tivessem existido.
(...)

Uma ideia de bem, sim, Bem com capitular, letra grande, reverência e vénia. Bem, isto. Palavra de um deus qualquer traduzida por um tipo qualquer num pergaminho qualquer. Não, não digam que o Alcorão não diz que se devem matar os infiéis. Não digam que a Bíblia não diz que se devem matar os infiéis. Não digam que é má interpretação.
Não digam que as religiões são amor e quem as
estraga são os homens: as religiões são feitas, construídas, sonhadas, e ditadas
por quem as pratica, por quem diz e crê que nos livros que mandam matar está a
palavra de deus, a palavra que não pode ser contrariada, discutida, reflectida,
abjurada.
Não é decerto por acaso que nunca se ouviu um mullah lançar uma fatwa contra quem lapida mulheres. Não é por acaso que nunca se ouviu o papa pedir desculpa às mulheres, em nome da instituição que representa, pela perseguição, tortura e morte de "bruxas", adúlteras, mães solteiras, todas as que tiveram o azar de irritar os santos homens e a sua ideia de santa mulher. Há muçulmanos boas pessoas, em horror ante Kismayu? Claro. Há católicos que não se reconhecem no Deuteronómio. Mas, vistos do Deuteronómio e da sua infinita crueldade, são infiéis como os outros.


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