O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, outubro 11, 2008

A DUAS VOZES …



Prémios Nobel de Literatura de 1983 e de 1998

Dois grandes escritores, dois prémios Nobel da Literatura, à distancia de quinze anos, dizem qualquer coisa de absolutamente relevante para os nossos dias e que importa desde já salientar e manter bem presente, em cada momento ou em situações de confronto com a cultura de cariz machista…

No livro AS DUAS VOZES, William Golding, remete-nos para uma evidência que a maior parte dos homens e com certeza os médicos, que tão mal conhecem as mulheres e as menosprezam, o recusam ver…

“As mulheres por vezes ficam histéricas e fazem e dizem as coisas mais estranhas. Mas esta observação vai dar a volta e morder a própria cauda: talvez a verdade da vida e do viver resida nas estranhas coisas que as mulheres fazem e dizem quando estão histéricas”

Assim como, José Saramago, com a sua argúcia para mim de forma surpreendente diz em O Memorial do Convento, algo muito semelhante e igualmente sábio…

"... É a grande, interminável conversa das mulheres, parece coisa nenhuma, isto pensam os homens, nem eles imaginam que esta conversa é que segura o mundo na sua órbita, não fosse falarem as mulheres umas com as outras, já os homens teriam perdido o sentido da casa e do planeta..."

Será que a sociedade patriarcal, e os homens em geral, não querem ver nem ouvir aquilo que os homens da arte do sentir, que é a literatura, dizem?

1 comentário:

Luíza Frazão disse...

De resto, José Saramago é um homem que manifestamente aprecia e valoriza as mulheres e que, com fina ironia, expõe a sua condição de seres subjugados pelo sistema patriarcal. Veja-se o modo como descreve a relação entre José e Maria em "O Evangelho Segundo Jesus Cristo". Admirável.