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"Somente o Nagual - disse – tem a capacidade energética de ser responsável pelo destino dos seus consortes. Cada um deles sabe-o e aceita-o. O nagual tanto pode ser homem como mulher. No tempo dos feiticeiros que foram os fundadores da minha linhagem, as mulheres eram, por regra, o nagual. O seu pragmatismo, produto da sua feminilidade, levou a minha linhagem a cúmulo de coisas práticas das quais não conseguiam emergir. Foi então que os homens passaram a dominar e levaram a minha linhagem a cúmulos da imbecilidade de que estamos agora a emergir.
“Desde o tempo do nagual Lujan, que viveu há cerca de duzentos anos – prosseguiu -, tem havido uma conjugação de esforços, partilhados por um homem e uma mulher. O nagual homem traz sobriedade; o nagual mulher traz inovação.
(…)
- Ser um feiticeiro – contou Don Juan – não significa praticar bruxarias, trabalhar para afectar as pessoas nem ser possuído por demónios. Ser feiticeiro significa atingir um nível de consciência que faz com que aconteçam coisas inconcebíveis. O termo “feitiçaria” não é adequado para exprimir o que os feiticeiros fazem, o mesmo acontecendo com o termo “xamanismo”. Os actos dos feiticeiros são exclusivamente do domínio do abstracto, do impessoal. Os feiticeiros lutam por atingir um objectivo que nada tem a ver com as preocupações do homem comum. As aspirações dos feiticeiros são atingir o infinito, e ter consciência desse facto.
(…)
Olhando-me directamente nos olhos, contou que o que tornava os seres humanos em feiticeiros era a sua capacidade de ter a percepção da energia directamente à medida que flui do Universo e que, quando os feiticeiros percebem um ser humano deste modo, vêem um halo luminoso, uma bola de luz ou uma figura luminosa em forma de ovo.” (…)
in O LADO ACTIVO DO INFINITO de Carlos Castanheda
NOTA À MARGEM:
Sempre que lia alguns dos livros de C. Castanheda, sentia que o termo mais adequado para falar do iniciado/a à magia para português seria xamã e não feiticeiro…dada a conotação pejorativa que o termo tem no Ocidente. Mas como diz Don Juan ambos os termos não se aplicam aos seus ensinamentos muito mais vastos e cósmicos do que a palavra feiticeiro/a ou xama evoca. Talvez por isso eu e muita gente tínhamos dificuldade em ler os seus livros, mas a verdade é que com o passar das décadas, a maturidade é necessaria, no meu caso, este livro, que li há cerca de dez anos e voltei a ler agora, deu-me uma compreensão muito maior…tanta coisa que há dez anos eu não percebia e agora, já velha, e “sem amigos”…entendo por experiência própria!
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Curiosamente e por coincidência a que podia chamar perfeita sncronicidade acabo de ler, já depois de ter publicado este poste, o seguinte texto (excerto) que vos apresento a seguir e convido a ler na íntegra:
"A medida que navego na vastidão do universo do xamanismo, da magia, da bruxaria, do Taoismo, mais admiro e aprecio a obra do novo nagual Carlos Castañeda, que também foi Joe Cortez, Isidoro Baltazar e Charles Spider entre outros. Não me importa muito se as "histórias" aconteceram do jeito que ele narra em seus livros, aliás ele mesmo alerta que o que importa são os cernes "abstratos" das histórias, não sua forma externa. Na mesmice da literatura esotérica e mágica ocidental a obra de Castañeda surge como algo realmente novo, instigante, desafiante. Me impressiona a elegância e a estrutura interna de sua obra, dos conceitos apresentados e como ele é capaz de ir direto aos pontos importantes deixando de lado a fantasia e os "enchimentos".
Hoje temos um xamanismo fast food, de cursos de fim de semana, de iniciações onde se pagam fortunas, um sincretismo de crenças, cheios de achismos e palpitismos. Há uma enorme confusão onde vivências psicológicas são tidas como vivências xamânicas, assim tudo é visto como simbólico, como "união ao self" e outras interpretações alienígenas à estrutura real do xamanismo, que tem sua própria estrutura paradigmática e repudia essas interpretações."
LER EM: http://www.pistasdocaminho.blogspot.com/
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