O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, abril 29, 2009

O AMOR ENTRE A MÃE E A FILHA


"Uma penteadeira toda cercada de espelhos que refletiam frascos de cristal; tinha pequenas gavetas que eram um fascínio, com caixas de perfumes e de pó-de-arroz e, entre a tampa da caixa e o pó, uma espécie de esponja levíssima que quando a gente soprava parecia voar. Uma cama de casal com um medalhão de madeira clara desenhado na cabeceira. A cama usualmente era coberta com um forro de cetim e, sobre este, uma colcha de cambraia branca com bordados abertos; no centro, outro medalhão de renda de filé fazendo o desenho de um cupido.

No quadro que em mim ficou gravado, a colcha de cambraia tinha sido dobrada; sobre travesseiros e deitadas no forro de cetim, duas mulheres amigas de minha mãe, e talvez minha mãe fosse uma delas, amamentavam seus bebês. Tinham tirado seus vestidos e estavam de combinações de cores claras, também de cetim. Outras mulheres estavam em volta, sentadas nos pés da cama e na banqueta da penteadeira. Todas falavam ao mesmo tempo e riam. Eu, a mais velha de muitas crianças que vieram depois, fui naturalmente admitida a um momento que era todo suavidade e graça. Participava de um mundo colorido e cheio de perfumes, de brilho de espelhos, cetins e cristais, um mundo cujo significado e mistério eu busca- ria sempre decifrar. Não se perpetuou como símbolo de maternidade mas de algo em que a maternidade simplesmente está inserida. Algo mais leve - uma realidade que ecoa dentro de mim como notas arpejadas, tênues, doces, traduzindo a experiência do feminino em sua mais pura essência."

Zelita Seabra

 

3 comentários:

Anónimo disse...

a primeira parte me lembrou mais o qto da minha avó materna... a penteadeira, a caixinha de música os perfumes e talcos... ah... doce lembrança...
dos dias em q eu segurava a mão dela a dizer q queria morrer... e eu dizia pra ela não morrer pq eu ia comprar um carro e levar ela pra passear todo dia...
passava muito tempo com ela ali, segurando na minha mão, enfeitando as horas com sonhos e fofocas pra ver se pelo menos ela sorria um pouco... ela sempre sorria...
fazia confidências, falavamos mal do meu avô e riamos juntas... não deixa de ser um elo feminino familiar... pulando uma geração ainda é mais fácil encontrar vínculos cor de rosa...
que saudades vó... e lembrar a última frase q vc me disse...

"ô Ju, vc está me fazendo tanta falta aqui..."

quem sabe se eu chorar a tarde inteira o sol volte a brilhar...

Anónimo disse...

um boa lembrança...

rl

Maria Afonso Sancho disse...

Que lindo!