O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, abril 15, 2009

VEM SOBRE OS MARES...


VEM, DOLOROSA,
MATER-DOLOROSA DAS ANGÚSTIAS DOS TÍMIDOS
TURRÍS-ÉRBURNEA DAS TRISTEZAS DOS DEPREZADOS,
MÃO FRESCA SOBRE A TESTA EM FEBRE DOS HUMILDES,
SABOR DE ÁGUA SOBRE OS LÁBIOS SECOS DOS CANSADOS.
VEM LÁ DO FUNDO
(...)
Onde estão os mares que os Navegadores abriram;
Outra folha minha atira ao Ocidente,
Onde arde ao rubro tudo o que talvez seja o futuro,
Que eu sem conhecer adoro;
E a outra, as outras, o resto de mim
Atira a Oriente,
Ao Oriente de onde vem tudo, o dia e a fé,
Ao Oriente pomposo e fanático e quente,
Ao Oriente excessivo que nunca verei,
Ao Oriente budista, bramânico, sintoísta,
Ao Oriente que tudo o que nos temos,
Que tudo o que nós não somos,
Ao Oriente onde - quem sabe? - Cristo talvez ainda hoje viva,
Onde Deus talvez exista realmente e mandando em tudo...

Vem sobre os mares,
Sobre os mares maiores,
Sobre os os mares sem horizonte precisos,
Vem e passa a mão pelo dorso da fera,
E acalma-o misteriosamente,
Ó domadora hipnótica das coisas que se agitam muito!


(ode à noite de fernando pessoa)

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