O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, abril 29, 2009

MÃE E FILHA...


Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem

"AS MULHERES ESQUECIDAS E AS MÃES...":

Rosa, não encontrei (!)

Mas não resisto a deixar este link, extenso mas interessante, apesar de puder discordar de uma ou outra transcrição lá existente.
http://www.sbpa-rj.org.br/maefilha.htm


…E já que falamos disso remeti-me a duas recordações de anos atrás numa estadia minha na terceira cidade do país: a na altura jovem mãe de um casal de filhos era de uma injustiça flagrante com a rapariga, a quem agredia física e mentalmente em todas as situações possíveis e inimagináveis. Protegia e rodeava o filho rapaz de todos os mimos e carinhos. O pai das crianças assistia impassível e quando era ele a agir sempre tratava filha e filho de modo rigorosamente igual.
A medida que a rapariga saiu da infância e entrou na adolescência o comportamento da mãe piorou proporcionalmente para a rapariga, mantendo a benevolência e ternura p/ com o rapaz. O casal era classe média, informado, progressista e razoavelmente culto.
Outro caso que me ficou na memória foi outra mãe igualmente de um casal de filhos que descarregava as frustrações da vida diária na... filha adolescente quase exclusivamente: atitudes de domínio sem contexto até à agressão física completamente despropositadas... Já com a sua cria masculina, dois anos mais novo, o comportamento era diametralmente oposto sendo que o desequilíbrio emocional da mãe raramente o atingia... Casos isolados? Talvez nem tanto, lamentavelmente. Mais p/ amostragem de um padrão indesejavelmente possível de ser encontrado. Não estabelecerei nenhuma relação causa-efeito até porque há, evidente, mães espectacularmente competentes e justíssimas, amadas e admiradas p/ suas filhas, mas... ficam 2 depoimentos de uma realidade observada bem mais vezes
Marian

Obrigada Marian pelo seu depoimento…

Infelizmente não são esses os casos isolados. Os casos raros são de facto os de mães e filhas que se amem…E eu já escrevi muito sobre isso. Sabemos as causas que quanto a mim é, digamos assim, a tese de Mulheres & Deusas, a cisão da mulher em duas, a santa e a p…pela igreja católica. E a rivalidade começa instintivamente entre a mãe e a filha, vendo a mãe a filha e vice-versa, como ameaça, em competição diante do homem (O PAI) de quem a mulher recebe o afecto e a tutela…Poderíamos dizer o mesmo para o sentimento de rivalidade entre o pai e o filho, mas aí as causas são outras, pois há igualdade de poder e domínio entre os homens.
Por acaso isso não aconteceu comigo, mas há muitos anos que me apercebi dessa anomalia através de filmes, romances, relatos e incidentes da vida, tal como você refere, facto esse que se tornou muito evidente para mim assim como me apercebi que esse antagonismo entre mãe e filha vinha de há muito tempo atrás…Foi talvez por isso que fiz toda a minha busca incidir sobre isso e me dediquei a esta causa e escrevi os meus livros, mas principalmente por amar a Mãe e Mulher…
Queria agora que reparasse neste pormenor curioso: se eu tivesse escrito pelo mesmo padrão referência sobre o amor-dos-homens, quer os meus poemas quer os textos em geral, e enaltecesse as qualidades patriarcais do macho e do amante, se elogiasse o seu poder, se falasse do ódio (ciúme e inveja) da outra mulher e a visse como rival, acredite, ter-me-iam dado muito mais crédito e destaque e venderia muito mais… Mas bem pelo contrário. Não só sou desacreditada ou ignorada como suspeita… principalmente para as mulheres!

Ainda ontem alguém me perguntava porque que é que esses romances de “cordel” ou cor-de-rosa (light?) se vendiam tanto e as autoras eram conhecidas e eu não. Para mim é óbvio. Não é consensual amar as mulheres… Esse é um pressuposto para a maioria das pessoas e mesmo que inconscientemente, uma mulher falar bem de outra ou ser amiga é anormal e aberrante. As mulheres não sabem lidar com o amor das outras mulheres…sentem-se mal com o afecto e o interesse genuíno de outra mulher (que lhe evoca o ódio da mãe?).
A regra do jogo é sempre masculino: é as mulheres odiarem e competirem com as outras mulheres…a não ser que uma mulher seja assumidamente lésbica, mas mesmo neste caso, não amam as lésbicas com o mesmo desprezo que os homens, com os mesmos preconceitos? Não cedem apenas ao desejo e à posse ou, por outro lado, não anseiam pela legalidade das suas instituições? Casar e ter filhos? Não são elas afinal uma espécie de travestis masculinos, copiando os modelos dos homens assim como em geral todas as mulheres de sucesso dentro do sistema patriarcal?
Tudo isto apenas nos mostra que a mulher perdeu de facto a sua verdadeira identidade. Perderam-se no tempo e na história, ou foram apagados deliberadamente pelos homens, os elos verdadeiros que uniam as mulheres e principalmente a ligação essencial entre a mãe e a filha que o mito Deméter e Perséfone simbolizavam, ou sejam os Mistérios eleusianos, cujo culto era representado pela Mãe e pela Filha, em vez do Filho e do Pai, como no mito cristão.

rlp

3 comentários:

Anónimo disse...

Tudo nublado...
por dentro e por fora...

tbm vejo isso... as mulheres q aparecem na midia e nas terapias são mesmo patriarcais, apesar do discurso... mas é bem provavel q eu tbm seja vista assim por outras pessoas... somos mulheres em transição, nascemos e fomos educadas de forma patriarcal, mesmo as gerações mais recentes repetem o mesmo padrão...

o mais difícil é mesmo quebrar esse ciclo vicioso, e ir pondo em prática o discurso do amor no feminino... agir com corência, no discurso e nas atitudes...

mas tbm apesar de tudo é preciso ter paciência com as mulheres, ainda patriarcais... há alguns anos eu tbm era uma delas... e os despertares são lentos...

a esperança é q o movimento iniciou... e aos poucos as mulheres vão fazendo a mudança, descobrindo pegadas como as suas aqui na net... pq o seu trabalho é referência pra todas nós...

mas realmente estou muito desanimada hj...

bjos linda...
Nana

Marian - Lisboa - Portugal disse...

Rosa, sem duvida que se optasse por escrever romances lights alimentando e alimentando-se da imensa teia de equivocos da matrix (ou patrix, mais provavelmente...) a paga seria um maior sucesso, sem dúvida... Tudo o que encontra eco na doente alma do mundo, tem resposta garantida! (vide novelas...)
Assim fica um trabalho bem mais dificil, mas importante e necessário, alem de auto-preservador.
Quando estou em casa em actividades de computador e me apetece som de fundo alem de musica, vario p/ vezes p/ tv em sites de desportos +/- radicais, canal wild life ou no national geograpic... Neste último apanhei uns quantos documentários razoávelmente interessantes s/ o micro-sistema social em prisoes de alta segurança nos eua que apostam na reabilitação efectiva dos detidos; e de quebra apanhei alguns capitulos s/ a prisao de Guantanamo... Impressionante a noção perfeita que alguns homens e mulheres de 19/20 anos que para ali vão com uma espectativa de idealismo (ha! ha!) ganham rapidamente de que a realidade é muito diferente dos prometidos sonhos: uma das militares disse que o ambiente lhe sugava a alma.
E eu acredito, afinal isso acontece quando desconfiamos que temos uma e nos envolvemos com um sistema que a destroi.
Um abraço
Marian

Unknown disse...

Muito interessante o texto, principalmente porque essa rivalidade entre mãe e filha é o que eu mais vejo na expressão feminina. Vocês tem a coragem de falar sobre algo que todo mundo empurra para debaixo do tapete. Tenho observado a mulher que projeta a rivalidade com a mãe nas outras mulheres ( isso é seríssimo) e também a mulher que sofre a pressão de uma mãe competindo aliatoriamente com ela, o que também é serissimo. Tenho me dedicado a cultuar e aprender com o feminino sagrado há alguns anos e essa relação de crueldade ( se posso falar assim) entre mãe e filha, entre uma mulher e outra me chama muito a atenção, devido ao nível de alienação das mulheres envolvidas. Gostaria de obter mais informações sobre o assunto, se alguém puder me ajudar, agradeço.
Voltarei aqui sempre.