O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, abril 19, 2009

ÁS VEZES, (ESCONDO-ME...)

A Alma Não se Usa na Superfície do Mundo


Se alguma coisa há que esta vida tem para nós, e, salvo a mesma vida, tenhamos que agradecer aos Deuses, é o dom de nos desconhecermos: de nos desconhecermos a nós mesmos e de nos desconhecermos uns aos outros. A alma humana é um abismo obscuro e viscoso, um poço que se não usa na superfície do mundo. Ninguém se amaria a si mesmo se deveras se conhecesse, e assim, não havendo a vaidade, que é o sangue da vida espiritual, morreríamos na alma de anemia. Ninguém conhece outro, e ainda bem que o não conhece, e, se o conhecesse, conheceria nele, ainda que mãe, mulher ou filho, o íntimo, metafísico inimigo.

Fernando Pessoa, in 'Livro do Desassossego'

"Se alguma coisa há que esta vida tem para nós, e, salvo a mesma vida, tenhamos que agradecer aos Deuses, é o dom de nos desconhecermos: de nos desconhecermos a nós mesmos e de nos desconhecermos uns aos outros. A alma humana é um abismo obscuro e viscoso, um poço que se não usa na superfície do mundo. Ninguém se amaria a si mesmo se deveras se conhecesse, e assim, não havendo a vaidade, que é o sangue da vida espiritual, morreríamos na alma de anemia. Ninguém conhece outro, e ainda bem que o não conhece, e, se o conhecesse, conheceria nele, ainda que mãe, mulher ou filho, o íntimo, metafísico inimigo."
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Este sentimento é o grande drama do homem não amado, rejeitado pela mãe, mais tarde pelas mulheres, o filho traído pela mãe que na sua "inferioridade" social tem que optar pelo amante ou pelo marido. A mãe “abandona” o filho à escola ou às leis da educação, não lhe dá assistência por mil razões. Todos nós somos assim rejeitados ou abandonados pelo amor da mãe...pois nós não queremos sair do seu ventre, da sua protecção, nunca queremos sair dos seus braços. Mas o adulto tem de se preparar para "a vida", ser realista
Quando digo Mãe, podia dizer deus ou a deusa, mas digo origem, eternidade, o que fica além do físico e material, digo alma saciada conectada à luz...mas a mãe como imagem primeira, como humana, é lenitiva...tem o poder de consolar e atenuar a ferida do nascimento…mas nem sempre a Mãe pode…mas ela também é odiada e traída e acaba traindo a criança que fica duplamente ferida. Depois vem o ódio, somatório de todas as frustrações e raivas, de todos os enganos e abandonos…

Fernando Pessoa é um grande iniciado mas o seu cepticismo vem do desespero desta vida sem amor; ele diz-nos com toda a sua lucidez o que nos é comum a todos (mas católicos, fingimos o contrário) que todos somos inimigos...

No fundo e apenas pela falta de amor que todos sentimos na vida; a alma como abismo do quanto somos carentes desse amor infinito que a mãe representa, mas neste plano não pode dar. Porque se alguém nos tivesse amado incondicionalmente, se nós nos amássemos a nós próprios, o inimigo não existiria, pois o amor na sua plenitude é o Conhecimento comum a todo o ser humano. Tal como todos respiramos o mesmo ar e dele vivemos, amariamos todos os humanos com o mesmo amor se o conhecessemos…
O nosso sofrimento provem da dor que é a memória da matriz ou da origem, a Mãe do céu...sem a conseguirmos tocar…Sem amor alimentamo-nos do sofrimento que é como um punhal no coração…por isso estamos sempre pontos a empunhá-lo…
Só os cínicos negam a necessidade desse amor e preferem sofrer…e odiar...
Quanto à vaidade, é o nosso ego que quer prevalecer sobre a nossa dor…

É POR ISSO QUE "A Alma Não se Usa na Superfície do Mundo"...

- Escondi o texto porque ninguém o entende verdadeiramente e todos pretendem saber...até eu!
Rleonor

6 comentários:

Anónimo disse...

TRADUÇÂO

A Alma Não se Usa na Superfície do Mundo


Se alguma coisa há que esta vida tem para nós, e, salvo a mesma vida, tenhamos que agradecer aos Deuses, é o dom de nos desconhecermos: de nos desconhecermos a nós mesmos e de nos desconhecermos uns aos outros. A alma humana é um abismo obscuro e viscoso, um poço que se não usa na superfície do mundo. Ninguém se amaria a si mesmo se deveras se conhecesse, e assim, não havendo a vaidade, que é o sangue da vida espiritual, morreríamos na alma de anemia. Ninguém conhece outro, e ainda bem que o não conhece, e, se o conhecesse, conheceria nele, ainda que mãe, mulher ou filho, o íntimo, metafísico inimigo.

Anónimo disse...

Finalmente, Pessoa traduzido para português!!!!!!!!!!!!!
E boa tradução, para quem tenha alguma noção do que é traduzir.
A tarefa da filosofia, é apenas tradução. hermes sabia disto.

saudações do país da Tinta,
Rabisco

NEANDERTHAL disse...

tudo passa-se no nosso cérebro e não estamos loucos.

a mentalidade de cada um é uma prisão adequada ou não à sociedade.

ouçamos pois, o rumor do mar...

Anónimo disse...

Bom ainda não me conheço como gostaria,mas acho que descordo de Fernando Pessoa,quanto a esta questão,afinal se somos todos inimigos,porque sera que possuo profundos amigos,pessoas que realmente m compreenderam,nos meus momentos de loucura e lucidez

Gaia Lil

Anónimo disse...

Esse é o grande drama do homem não amado, rejeitado pela mãe, pelas mulheres, o filho traído pela mãe que na sua "infioridade" social tem que optar pelo amante ou pelo marido. Todos nós somos rejeitados ou abandonados pelo amor da mãe...nós não queremos sair do seu ventre, nunca queremos sair dos seus braços.Quando digo Mãe,digo origem, eternidade, o que fica além do físico e material...mas ela consola e é lenitiva...
Fernando Pessoa é o grande desesperado e toda a sua lucidez é o que nos é comum: a falta de amor que todos sentimos na vida: a alma como abismo quanto somos carentes desse amor infinito que a mãe representa, mas neste plano não pode dar. A dor e a memória da matriz ou da origem...que só cínicos negam e os lúcidos como ele sabem...

- escondi o texto porque ninguém entende e todos pretendem saber...
rleonor

Anónimo disse...

Olá amiga! Porque nem o tempo, nem a distância apagou laços antigos; porque te conheço um pouco, te compreendo um pouco mais apesar de te não ver; porque é na alma de poetisa que sinto: amor, partilha, dádiva ou, inquietação, dúvidas,raivas...!porque sinto desabar em nós a Essência humana que nos robam, a verdadeira alma de mulher que abandonam e, porque tudo isso nos faz mal não poderemos abandonbr-nos aos assassinos. Um beijinho.rosario