O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, maio 24, 2018

A MULHER DE QUE EU FALO



DE MULHERES SAGRADAS A  MULHERES OBJECTOS...

Essa Mulher de que eu falo integra e inteira  não é certamente a mulher perdida de si mesma, submetida às instituições e dominada pelos homens como um objecto de uso pessoal e social que nada tem a ver com a Mulher Divina ou a Musa, a Mulher do inicio da nossa História - essa  mulher essencial porque mágica, sacerdotisa, detentora de sortilégios e poder de curar, aliada da natureza e dos animais! Essa mulher de que eu falo nada tem com esta mulher colonizada  pelo poder patriarcal que destitui a Deusa Mãe e fez da sacerdotisa uma prostituta e da mulher livre “a casada” e portanto, sujeita às suas leis. 

Não, a mulher de que eu falo não é apenas um corpo objecto e um sexo!

Essa mulher nada tem a ver com a mulher moderna, perdida da sua origem e essência, é hoje uma espécie de apátrida sem sentimentos ou consciência própria. É uma mulher esquecida de si mesma e da sua verdadeira natureza ontológica. Ela absorve, diz e escreve pela visão do homem e sente-se como um homem; ela é a policia travesti, é a médica inumana, é o soldado que vai à guerra é a mãe sem coração nem amor pela maternidade! Ela é a executiva implacável que odeia as mulheres e a ministra agressiva e bélica. Ela é uma Atenas saída da cabeça de Zeus ao serviço do patriarcalismo sem consciência nenhuma de si própria em profundidade.

Esta mulher de hoje que vive em função do seu corpo e da sua sexualidade não se sabe nem se conhece como uma verdadeira Mulher. Esta mulher de hoje desconhece o seu amago e está totalmente perdida de si mesma, educada pelos padrões masculinos e suportada por sociedades falocráticas, não têm nenhum sentido do seu centro e apenas se dá o valor que os homens lhe dão que é o de uma mente racional atulhada de conceitos lógicos onde prevalece tacitamente a superioridade do Homem em nome de quem ela fala e para quem ela só vale pelo sexo e como reprodutora.

Esse Feminino inato e eterno e parte do Princípio Yin que rege o universo foi rechaçado e denegrido ao longo dos séculos e a mulher destituída de uma identidade que lhe é própria pela predominância exclusiva do Princípio masculino, Yang e pela força de um autoritarismo, negando às sociedades humanas esse equilíbrio dos dois princípios em harmonia que a Deusa Mãe impunha como justiça e lei, o Cálice (o que contem) e não a força da Espada, o que viola e mata!

Por isso falar de feminino, pela sua ausência de sentido profundo, ou de essência é falar apenas de sexo e sexo e gravidez e abortos etc. e a confusão estabelece-se. A mulher é vista por baixo...até ao pescoço e nunca com cabeça tronco e membros...E nesta linha, para os homens, uma mulher que não se oferece ou não se entrega e não viva apenas em função dele e para lhe agradar ou é feminista ou lésbica...
Não, eu não nego a sexualidade da mulher como algo poderoso nem o corpo, e seus sentidos ...mas a mulher é muito mais do que um corpo! Ela tem Alma afinal...e coração também...e tem um potencial imenso a desenvolver, uma grandeza e uma dignidade que lhe trará VERTICALIDADE - elevação da Kundaline -...sem ser apenas pelo orgasmo ou pela gravidez...

Será que as mulheres não sonham com esse SENTIR-SE em si inteiras, com identidade própria, para que possam de uma vez por toda serem MULHERES inteiras, independentemente do papel/função que escolhem ter? Sim, a aposta das mulheres não devia ser antes de tudo o mais numa Mulher Integral, com significado e vida em si mesmas, como mulheres plenas em si, radiantes e magnéticas, sem medo nem necessidade de estereótipos?

Será que eu estou a dizer uma blasfémia...?

OU SERÁ QUE NÃO VEMOS COM ESSA MULHER SE PERDEU?


E não seria também o caso de as mulheres que pretendem seguir e recuperar esse Sagrado Feminino de que agora tanto se fala não deviam elas começar por si mesmas a nível individual e a trabalhar uma consciência de si mesmas - perceberem a sua cisão, o seu conflito interno - para voltarem a ser essa Mulher Inteira, tornar a mulher comum integral una e uma só...? e não apenas a viver uma Deusa fora de si e cultivar um mito, um ritual ou uma religião antiga por mais digna e verdadeira que seja?

Não seria então e antes de tudo o mais e urgente ir buscar essa CONSCIÊNCIA SUPERIOR E ONTOLÓGICA QUE REDIMENSIONA A MULHER em si mesma e ao nível da sua Psique e da sua Alma para que possa de novo recuperar o seu verdadeiro estatuto na sociedade humana em vez de se manter presa a padrões redutores e sempre focada no "outro/a" e no prazer do sexo e do corpo? Deixar de ser apenas essa mulher objecto, o eterno diabo, a sedutora, a mulher vazia de si, fatal, a frívola, ou agora a prostitua "sagrada" que ousam profanar...e confundir com a verdadeira sacerdotisa da Deusa?


RLP

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