O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, maio 13, 2018

LER SOBRE UM PAIS ESTRANGEIRO



“Nós as mulheres escrevemos de maneira diferente da dos homens. Temos muita conversa sobre a vida doméstica e a nível mais pessoal. As mulheres  sentem-se  confortáveis falando de si, ao contrário dos homens. Mas as mulheres sempre compraram livros escritos por homens, e se deram conta de que não eram livros sobre elas. Mas continuaram a fazê-lo com grande interesse, porque era como ler sobre um país estrangeiro. Os homens nunca devolveram a gentileza.”  - Grace Paley (1922-2007).

Mas precisamos nós dessa "gentileza" ou respeito?
Sim, porque não leem os homens os livros escritos por mulheres? E porque continuam as mulheres a ler só os livros escritos  por homens? Porque aceitam que sejam os homens a ditar tudo incluindo a maternidade o sexo e a moda etc?
Esta grande confusão continua actual - e não são só os livros em geral, mas todo o conhecimento universitário como o ensinamento  social e cientifico e académico é dos homens sobre o Homem...e as mulheres rendem-se a essa estranha lacuna de um mundo onde as mulheres não tem a palavra nem se dizem no feminino nem quando falam entre si no geral...Sim, mesmo falando delas elas dizem o Homem e falam sempre no masculino... 

E o que fazem os homens quando ouvem as mulheres?
Tal como relata Virginia Woolf neste trecho ele tem de destruir tudo o que a mulher diz...

O que contava sempre "Era ele – o seu ponto de vista. Quando elas falavam sobre algo interessante, pessoas, música, história, qualquer coisa, simplesmente comentavam que fazia uma noite bonita, por que não iam sentar lá fora, então o que elas se queixavam a respeito de Charles Tansley era que, enquanto ele não tivesse virado a coisa toda do avesso, fazendo com que, de alguma forma, se refletisse a ele próprio e as rebaixasse a elas, enquanto não deixasse todas elas, de alguma maneira,  frustradas (...), todas elas com os nervos à flor da pele, ele não ficava satisfeito.”* 

*Virginia Woolf, no livro ‘Rumo ao Farol’.

RLP

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