OUSAR SER E OUSAR
DIZER.
Quando escrevo sobre a Deusa ou sobre Lilith, eu escrevo sobre a Mulher. Eu não
escrevo para falar as mulheres da Grande Deusa e do seu poder e misericórdia,
nem das feiticeiras ou sacerdotisas de outrora ou de rituais e práticas ou
lugares antigos onde as deusas e as sacerdotisas viviam felizes numa época
remota... Eu não escrevo sobre Lilith
como Mito ou arquétipo ou deusa ou demónio e que Ela era assim e assado e foi talvez isto e aquilo
para que saibamos da história bíblica e
discutamos quem tem razão ou está certa ou o que é verdade... Eu não falo do mito
ou de acontecimentos do passado de que nada sei ao certo; não vos conto
histórias gloriosas sobre deusas e bruxas, sacerdotisas e feiticeiras ou mulheres
curandeiras e muito nobres e as grandes figuras que deixaram rasto apesar do
patriarcado. Não vos falo de crenças nem ideologias ou ideias, nem vos falo das
feministas nem das grandes pioneiras disto ou aquilo, rainhas ou escritoras,
activistas ou benfeitoras da humanidade.
Não, eu escrevo apenas sobre a MULHER REAL e para a
Mulher-mulher. Quero apenas saber da mulher actual, a mulher moderna, a mulher
comum, que sou eu e tu, da mulher vulgar, a mulher que trabalha e se busca e
sofre ou não... e que não sabe nada de deusas nem de religiões...Eu escrevo
para qualquer mulher que tenha um mínimo de consciência de si e se interrogue
sobre a sua vida e que queira perceber um pouco mais de si e do seu
sofrimento...O porquê deste sofrimento e castigo (pecado) da mulher, porque
este fado, porquê é que a mulher é EM
TODO O MUNDO a vitima de todas as guerras e lutas e crimes e perseguições ao
longo da história...
Não, eu não vos conto história velhas ou novas...
NÃO
INVENTO NEM CO-CRIO NADA!
Eu não curo ninguém, não sigo ninguém, não sou terapeuta nem
astróloga nem adivinha, nem apresento métodos terapêuticos para atingir não sei
que fins... Não. O meu propósito de vida foi e é descortinar quem somos e tem
como fim em vista falar a cada mulher sobre o que ela vive
agora e o que passa à sua volta e o porquê do que sofre a cada hora e
porque se cala e se revolta ou se
submete e se deixa espancar...e matar ou porque continua a sonhar!
Eu não tenho teses nem teorias. Não tenho técnicas, dons de
cura ou salvação. Não eu não sequer tenho crenças e nem sequer tenho fé em nada. Eu apenas sugiro que a mulher olhe para si
mesma e aprenda a ser a sua mestra, a sua deusa, a sua curadora, AMANDO-SE, indo
ao fundo de si mesma, interrogando-se e conhecendo-se. Eu apenas sugiro que
cada mulher se olhe com apreço e ternura e entenda a sua riqueza interior e a
sua capacidade de dar e receber em si mesma, sendo ela a sua força e o seu
prazer. E escrevo e labuto ou luto e digo e insisto em escrever isto porque eu
sei que sem que a mulher seja consciente de si e desse seu fundo recôndito, desse
amor em si, enquanto Mulher e como mulher, ela não resgatar essa sua essência
lá do fundo da sua psique atormentada e das suas entranhas rasgadas, do seu
ventre violado, do seu sexo abusado e violentado, ela apenas se angana a si e
as outras mulheres com promessas...
Aquilo que eu digo e que eu defendo e sei quase no fim da
minha vida é que somos todas parte de
uma teia constitutiva de energias e redes invisíveis, como as árvores e que se cada mulher per se se ligar, se
conectar com essas energias dentro de si mesma e estender as suas mãos as suas
irmãs - assim sim - vamos lá chegar...
Eu apenas sei que cada mulher tem essa magia e na sua testa
a marca de uma Estrela... e que nada a impedirá de brilhar porque essa é a
mesma estrela que nos marca há milénios e nos faz descer à Terra para a cuidar
do ser humano e amar, para SERMOS MULHERES e Mães e amantes. E sei que essa condição só é possível pelo nosso
despertar interior...ao munimo-nos dessa força perene que vem das nossas raízes celulares e não,
como nos contaram as velhas historias de fadas e princesas que nos querem
adormecidas e inertes e só despertas pelo beijo do príncipe...que vira inevitavelmente
o sapo...
ESCREVO porque sei que há em cada uma de nós todo o
potencial que nos liga a essa Mulher Velha que também somos fora, e todas temos
acesso a essa Sabedoria inata. É preciso porém percorrer esse caminho de vida
que é só da Mulher e fazer a união das 3 Mulheres que todas somos: desde logo a
menina, a Jovem depois a Mãe e então a
Anciã... E é nessa tríade que
encontramos a verdadeira essência que nos liga a todas e que nos pode
irmanar, e é ligadas nessa essência que deixaremos de ser divididas... e
deixaremos de rivalizar umas com as outras, mães e filhas e avós e amigas e
irmãs. É por meio desse fio invisível que chegarmos a fusão do nosso ser e
seremos mulheres inteiras fiéis a nossa origem e as nossas antepassadas. Sim, é
por tudo isto que persisto e escrevo isto... mesmo condenada ao descrédito como
Cassandra pelas próprias irmãs... que se venderam a Apolo ou a Cristo ...
porque tudo se repete enquanto a mulher não for essa Mulher Inteira.
É pois preciso "Integrar todas as partes da nossa
feminilidade, incluindo a sexualidade e os mistérios da velhice e da morte,
poderia tornar-nos mais fortes e sábios ao enfrentar os actuais desafios
ambientais.”*
Rosa leonor pedro
*in “Lilith: Deusa, Demónio ou Lua Negra da Terra”
por Julie
Loar (Julie Gillentine)
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