O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, novembro 20, 2021

A mulher ingênua concorda em permanecer "na ignorância".




"O BARBA AZUL" (O PREDADOR) 

A CHAVE DO CONHECIMENTO


"A chave do conhecimento: a importância de farejar

Ah, e essa chavinha minúscula? Ela é o acesso ao segredo que todas as mulheres sabem e ainda assim não sabem. A chave é tanto uma permissão quanto um apoio para que ela conheça os segredos mais profundos, mais obscuros da sua psique, nesse caso aquilo que degrada e destrói estupidamente o potencial de uma mulher.
O Barba-azul prossegue em seu plano destrutivo ao instruir a esposa a se comprometer psiquicamente. "Faça o que quiser", diz ele. Ele sugere à mulher uma falsa sensação de liberdade. Ele insinua que ela pode se alimentar à vontade e se deliciar com paisagens bucólicas, pelo menos dentro dos limites do seu território. Na realidade, porém, ela não é livre porque não lhe é permitido registrar o conhecimento sinistro a respeito do predador, muito embora, bem no fundo da psique ela já compreenda bem a questão.
A mulher ingênua concorda em permanecer "na ignorância". Mulheres fáceis de serem logradas e aquelas com instintos fragilizados ainda se voltam, como as flores, para o lado em que o sol se apresenta. A mulher ingênua ou magoada pode
então, com extrema facilidade, ser seduzida com promessas de conforto, diversão e arte, promessas de inúmeros prazeres, de uma ascensão social aos olhos da família, das colegas, ou de maior segurança, amor eterno ou sexo ardente.
O Barba-azul proíbe a jovem de usar a única chave que a traria de volta à consciência. Proibir uma mulher de usar a chave que leva à consciência é o mesmo que lhe arrancar a Mulher Selvagem, seu instinto natural de curiosidade e sua descoberta do que “se esconde por baixo”. Sem o conhecimento selvagem, a mulher está desprovida de proteção adequada. Se ela tentar obedecer à ordem do Barba-azul no sentido de não usar a chave, estará escolhendo a morte para seu espírito. Ao optar por abrir a porta de acesso ao horripilante quarto secreto, ela escolhe a vida."

In Mulheres que correm com os Lobos

Clarissa Pinkola Estees


Sem comentários: