O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, novembro 07, 2021

UM LUTO DE ALMA

 


Não tenho estado presente por aqui. Um luto sentido tirou-me qualquer vontade de comunicar e exteriorizar o que que quer que fosse. Não sinto estes espaços virtuais muito  dignos da sacralidade que um luto me merece…nem da intimidade de sentimentos profundos como um luto de alma. Contudo, hoje, passados alguns dias, depois das cerimónias fúnebres da minha sobrinha, filha da minha irmã mais velha (também já falecida) senti vontade de escrever sobre como as relações humanas são tão deficientes em si e ao nível das personalidades… E este sentimento repete-se sempre que alguém morre…

Na vida de superfície, afastam-se as almas e quebram-se os laços por ignorância e ego, por lutas medíocres de interesses ou diferendos de ideias, em que as pessoas se medem e medem os seus sentimentos através de mais valias… e valores mesquinhos. A alma, contudo, desnuda-se diante da morte o que fica são os elos verdadeiros e as emoções profundas… os gritos sufocados de impotência, o choro reprimido, a dor sentida que nos rasga, e a incapacidade em mudar as coisas…na vida e na morte! Tudo vai continuar na mesma… O mundo gira e todos nascemos e partimos um dia…

Tinha uma relação normal com a minha sobrinha, uma mulher forte de 59 anos, uma mulher que mais ou menos conseguiu o que queria por força da sua determinação e vontade, e do seu trabalho.  A nossa relação sempre foi próxima embora não muito presente porque geograficamente distantes. Mas ela era o elo que unia a restante família e mantinha a ordem das coisas… e era o meu referencial profundo, mesmo que não tivesse totalmente consciência disso  e é aqui a minha questão primordial, a razão desta nota: ela era a continuação do elo matrilinear das mulheres da minha família, uma continuação da minha mãe e da minha irmã… e pude sentir como isso é importante. Não tendo filhas, tenho mais sobrinhas muito queridas, mulheres de garra e também fortes, cada uma à sua maneira, mas esta era o elo maternal mais forte porque era a linhagem feminina… e nela perdi um pouco mais da minha mãe e da minha irmã e de mim… um secreto pacto de almas que nós desconhecemos e tantas vezes traímos…

Rendo homenagens às restantes mulheres da minha família, às mulheres dos meus irmãos, às minhas avós e tias e antepassadas – quase ninguém resta neste plano - e a todas as mulheres que conheci e me trouxeram a consciência de mim como mulher. Saúdo os homens que as amaram e respeitaram.

 

rlp

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