Não tenho estado presente por aqui. Um luto sentido tirou-me
qualquer vontade de comunicar e exteriorizar o que que quer que fosse. Não
sinto estes espaços virtuais muito dignos da sacralidade que um luto me merece…nem da intimidade
de sentimentos profundos como um luto de alma. Contudo, hoje, passados alguns
dias, depois das cerimónias fúnebres da minha sobrinha, filha da minha irmã
mais velha (também já falecida) senti vontade de escrever sobre como as
relações humanas são tão deficientes em si e ao nível das personalidades… E
este sentimento repete-se sempre que alguém morre…
Na vida de superfície, afastam-se as almas e quebram-se os
laços por ignorância e ego, por lutas medíocres de interesses ou diferendos de
ideias, em que as pessoas se medem e medem os seus sentimentos através de mais
valias… e valores mesquinhos. A alma, contudo, desnuda-se diante da morte o que
fica são os elos verdadeiros e as emoções profundas… os gritos sufocados de
impotência, o choro reprimido, a dor sentida que nos rasga, e a incapacidade em
mudar as coisas…na vida e na morte! Tudo vai continuar na mesma… O mundo gira e
todos nascemos e partimos um dia…
Tinha uma relação normal com a minha sobrinha, uma mulher
forte de 59 anos, uma mulher que mais ou menos conseguiu o que queria por força
da sua determinação e vontade, e do seu trabalho. A nossa relação sempre foi próxima embora não
muito presente porque geograficamente distantes. Mas ela era o elo que unia a restante
família e mantinha a ordem das coisas… e era o meu referencial profundo, mesmo
que não tivesse totalmente consciência disso e é aqui a minha questão primordial, a razão
desta nota: ela era a continuação do elo matrilinear das mulheres da minha família,
uma continuação da minha mãe e da minha irmã… e pude sentir como isso é
importante. Não tendo filhas, tenho mais sobrinhas muito queridas, mulheres de
garra e também fortes, cada uma à sua maneira, mas esta era o elo maternal mais
forte porque era a linhagem feminina… e nela perdi um pouco mais da minha mãe e
da minha irmã e de mim… um secreto pacto de almas que nós desconhecemos e
tantas vezes traímos…
Rendo homenagens às restantes mulheres da minha família, às
mulheres dos meus irmãos, às minhas avós e tias e antepassadas – quase ninguém
resta neste plano - e a todas as mulheres que conheci e me trouxeram a
consciência de mim como mulher. Saúdo os homens que as amaram e respeitaram.
rlp
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