O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, outubro 24, 2006

Deusa sagrada, Mãe Terra,
Tu de cujo ventre imortal
Surgem deuses, homens e animais,
E folhas e botões e flores…



(…)
"Na Antigüidade, o princípio feminino na imagem da Deusa simbolizava o princípio do relacionamento - a conexão oculta existente entre todas as coisas. Em segundo lugar, simbolizava a justiça, a sabedoria e a compaixão. Em terceiro, e principalmente, o princípio feminino era identificado com a dimensão invisível que existe para além do mundo conhecido - uma dimensão que pode ser vista como uma vasta e invisível matriz ou teia, ligando o espírito não-manifesto à matéria manifesta. A palavra então usada para identificar essa matriz era Grande Mãe ou Deusa; posteriormente, passou a ser chamada de Alma. O princípio feminino oferece uma imagem da integração, sacralidade e inviolabilidade de toda a vida; o mundo dos fenômenos (natureza, matéria, corpo) era visto como sagrado por ser a teofania ou manifestação do espírito cósmico.
A grande falha da civilização patriarcal tem sido sua ênfase excessiva do arquétipo masculino (identificado com o espírito) e a desvalorização do feminino (identificado com a natureza). Isto se reflete no fato de que a figura divina não possui uma dimensão feminina, e também no desprezo pela alma e na misoginia responsável pela repressão e pelo sofrimento das mulheres.


A história dos últimos 4000 anos foi forjada pelos homens, determinada pelas perspectivas masculinas e direcionada aos objetivos estabelecidos pelos homens - especialmente os objetivos de conquista (em nenhuma hipótese estas palavras devem ser lidas como crítica; no contexto dos sistemas de crença e no nível geral de consciência, não havia como ser diferente).
Contudo, devido à poderosa influência desta longa experiência formativa que foi o desenvolvimento da religião e da ciência - bem como de nossas idéias culturais e padrões de comportamento - nossa civilização foi construída sobre esses alicerces desequilibrados. Durante esse tempo, tudo o que era tido como "feminino" (a natureza, o corpo, a mulher) foi depreciado e reprimido, como o foi a rica diversidade do Paganismo da Antigüidade. No campo da religião, os hereges foram eliminados; muitos modos de se relacionar diretamente com o transcendente se perderam. Isto certamente criou um profundo desequilíbrio na cultura e na mente humana. Acabou por finalmente levar às tiranias do século XX, onde as vidas de cerca de 200 milhões de pessoas foram sacrificadas por regimes totalitários. Podemos testemunhar o legado brutal deste desequilíbrio no Afeganistão, na Bósnia, na Chechênia, em Kosovo (e em muitas outras partes do mundo). Mas também podemos encontrá-lo na filosofia que ainda domina a moderna cultura ocidental. O tirano atual é o reflexo extremo de uma patologia profundamente arraigada, a qual deriva de um duradouro desequilíbrio cultural entre os arquétipos masculino e feminino e, no nível humano, entre o homem e a mulher. Gostaria de transcrever um excerto de um artigo recente:"
"Vivemos... num mundo de monstruosas tiranias. Por toda parte, existem governos que, por desígnio ou por negligência, permitem que pessoas passem fome, destruindo suas vidas, dissolvendo seus laços familiares. Por toda parte existe opressão à mulher, a outras raças, a modos de vida que são caros às pessoas. A propriedade é confiscada, as vilas são incendiadas, doenças e desnutrição proliferam sem controle. E o que todas essas vítimas - dezenas de milhões delas - têm em comum, o que traz seu sofrimento para o cerne de minha indignação, é isto: eles não pediram por isso; eles não têm como evitar; não há nada que eles possam fazer para alterar esse quadro; eles não têm opção."
(Matthew Parris, The "Times" - Londres, 6/9/98)
(…)
Anne Baring - O Mito da Deusa
Excerto de artigo que pode ler na íntegra em
HERA MÁGICA: http://www.heramagica.com.br/

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