O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, outubro 02, 2006

O QUE SÃO OS POLÍTICOS NACIONAIS...
- porque eu não diria melhor...


Arquive-se...


Psicóloga
genecanhoto@gmail.com

Joana Amaral Dias



Com um novo referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez (IVG) na calha, as posições por parte de quem defende a manutenção da lei são pouco transparentes. O Expresso noticiava que Marcelo Rebelo de Sousa e Paulo Portas apadrinhariam uma iniciativa do PSD, proposta pela deputada Zita Seabra, que defenderia o arquivamento de todos os processos contra mulheres que abortam. Posteriormente, Marcelo e Portas desmentiram, embora tenham concedido a sua simpatia a uma iniciativa intitulada Proteger a vida, sem julgar a mulher, que pretende a "suspensão provisória dos julgamentos" - algo diferente do "arquivamento generalizado", mas com convergências. Por fim, Zita Seabra, que considerava o seu projecto "justo, necessário e inadiável", desistiu.


Aquando do anterior referendo, havia quem argumentasse que os julgamentos de mulheres jamais se verificariam, logo não se justificava a alteração à lei. Hoje, esse argumento não colhe, porque, entretanto, muitas mulheres foram perseguidas, julgadas e humilhadas. Primeiro era: "Mantenha-se a lei da IVG, porque ela não é cumprida." Agora seria: "Mantenha-se a lei, sem a cumprir." E como as próprias formulações e pseudo- -alteração de posição indicam, seria por mero calculismo. Senão, vejamos.

Se os defensores da manutenção da lei estivessem, genuinamente, preocupados com os processos medievais a que as mulheres têm sido sujeitas, e se realmente acreditassem que a solução passaria pelo arquivamento, deveriam ter avançado com essa sugestão há muito tempo. Mas não o fizeram. Se o fizerem agora é somente porque há um novo referendo previsto e os julgamentos são uma espécie de má publicidade, que tem que ser abafada. Mais. Arquivar serviria para varrer o lixo para baixo do tapete. Para além de persistir em negar o direito de optar, aquilo que o arquivamento faria seria apenas manter o recurso ao aborto clandestino. Que é seguro para quem tem algum dinheiro ou apenas mais informação. Muitíssimo perigoso e humilhante para quem tem poucos recursos. E isso não seria resolver um problema. Não seria lidar com a verdade. Seria apenas a hipocrisia dos costumes. Arquive-se o arquivamento, portanto.

E faça-se aquilo que é, realmente, justo, necessário e inadiável. Só então a decisão será de acordo com a consciência de cada um.


(Na íntegra)
IN DIÁRIO DE NOTÍCIAS de 2/10/06



ACHO QUE ESTOU VOLTANDO...

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