O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, janeiro 06, 2023

DE CORAÇÃO PARA CORAÇÃO





MENSAGEM de uma jovem Mãe brasileira...
(...) 

Então te escrevo do meu exílio, no momento que estou aprendendo a crescer, a admitir que não recebi o amor que precisava da minha mãe e com compaixão entender que foi assim que ela aprendeu a sobreviver e que por mais que eu tente, só haverá desgaste emocional. Estou me afastando com grande custo, porque a mente vive pregando peças, afinal é mãe, e pai e ainda não me sinto uma mulher, a ferida da menina é grande, mas quando Esperanza nasceu senti que se feriu a mulher que sou e pouco a pouco estou me erguendo. Sei que tenho uma espécie de missão com as mulheres, mas é muito difícil, por não ter vivido um história de amor com minha mãe e pela minha personalidade sempre sou rejeitada, e sinto que não há uma verdadeira irmandade feminina, ou ajuda mesmo. Eu vejo muitos discursos e pouca prática, e com o conhecimento do que se passa e com seus escritos cada vez mais parece impossível estar com outras mulheres, estar quieta e não poder falar...

(...) Lilith está ligada diretamente com o nascimento da minha filha por isso me surpreendi, agora entendo que talvez seja pelo caminho que estamos fazendo. Da primeira relação mãe e filha de encontro, de amor, enquanto vou chorando e sentindo medos que jamais tive, creio que direto das minhas ancestrais, é meu legado, essa ponte entre passado e futuro. E com minha mãe eu não sinto que seja possível que tenhamos outra relação, só preciso compreender e aceitar que é onde chegamos, que não posso curá-la. Já cheguei até duvidar da minha sanidade mental e graças a outras mulheres que tem mães narcisistas, estou compreendendo uma vida toda até aqui, aos meus 31 anos.

Lilith, eu sabia que era ela, sentia que pegava Esperanza no colo no astral para que eu pudesse me concentrar em mim mesma.
Estava nua com nuvens ao seu redor, uma beleza que jamais havia sentido em relação a mulher, minha mente está toda poluída em relação a mulher, a minha cisão e todas as porcarias desse sistema...
Eu enxergo tudo o que você escreve Rosa nos filmes, mas pessoas, agora mesmo no Brasil onde chamam uma a primeira dama de puta por um lado, do outro lado que bom que é feminista, do outro lado que não é recatada e comportada como a antiga. É tanta divisão... E agora notícias do que o governo ucraniano pretende com bebés artificiais, mandar as grávidas para a guerra... cadê as feministas? As mulheres para defender suas causas, seu sagrado , seu útero?
Estou vivendo essas experiências, minha morte, renovação, crescer além da menina, meu amor profundo pela minha menina, nossa solidão que compreendo o quão é necessária nestes tempos, passamos grande parte do tempo só nós duas. E eu renunciei a tudo lá fora, trabalho, família, etc. E minha própria mãe assim que pari perguntou quando eu ia fazer um mestrado e que eu tinha que ver as necessidades do meu esposo...e Rosa ele foi a única pessoa que me ajudou durante a minha recuperação, coisas que nem minha mãe teve empatia sendo mulher de fazer. Mas estou aqui renascendo e me fortalecendo cada dia. E sim, há coisas boas da alma que me acontecem, como essa ajuda espiritual, que seres como nós que não somos modificados estamos avançando e sei que é pra proteção de Esperanza.
Com ela sinto que as pessoas sorriem, ela olha pra alma, ela transmuta a tristeza, a sinto como filha, irmã, uma sacerdotisa de outros tempos, um encontro de alma, jamais imaginaria que teria tanta sorte nesta vida, eu que sempre me senti tão estrangeira aqui.
É muita coisa, me perdoe. Assim que recebi o livro eu escrevi um pouco, mas cada vez que leio me vem novas visões, intuições. Só sei que nos momentos muito difíceis, esses momentos que parecem que doem os ossos, eu agradeço por ti Rosa e pelo teu livro, e me agarro a eles esperando o tempestade passar, abraçando minhas mortes.

Escrevi dia 19 de novembro de 2022

Ao ler sobre Lilith senti que encontrei um lugar dentro de mim que pode chorar livremente, o choro da alma e alegria angustiada por saber que esse lugar existe, ao mesmo tempo que me sinto tão dentro de mim e tão longe de tudo. Chorei por mim, chorei por minha filha tão pequena, pelo mistério da vida pulsante, vibrante em mim, tão verdadeira nela ainda, intocada por ver esse mundo, por ainda não ver com os olhos e alma de mulher. Chorei pela minha divisão que me tira as forças, que me faz ser metade para poder estar entre as pessoas e saber que não há nada neste mundo, nem ninguém que receberia bem, de forma cristalina, transparente, sem distorções, o quanto temos dentro de nós a experiência do sentir mulher, apenas sendo o que se é...pois não há palavra para descrever essa energia, somente ser e quando se tem a oportunidade nessa vida de sentir essa visceral tormenta dentro de si, a ternura furiosa de Lilith, é um presente, como algo raro e belo que encontramos na natureza, como as pérolas em que se paga um preço muito doloroso para existir. Lilith como assim me apareceu em um estado alterado de consciência, no momento em que conhecia a vida e morte, em que sentia a terra e o céu se tocarem através de mim, ela estava ali; eu meio que assustada por vê-la, não saberia descrever o que passei, somente que uma estranha força me apoiava, no momento que só tinha a mim mesma, talvez para lembrar que sou uma, de onde vim, e o que significa caminhar por essa terra como mulher. Esse foi o dia em que pari minha menina, minha tão esperada e desejada filha. E depois de sua visita no parto, o tão temido e solitário deserto da alma, a encarar a cisão em mim e tantas outras partes fragmentadas...Rosa, eu gostaria de poder escrever melhor o que sinto, mas me parece impossível, não consigo captar por palavras, não há como fazer isso, e é somente isso. Mas te sinto, assim como sinto Lilith, como um perfume que me recorda quem sou, uma lembrança de um encontro que nos aconteceu em alguma dimensão que desconheço completamente e agradeço por ti, pela tua escrita, tua humanidade, pelo teu livro que me chegou cruzando os mares até o Brasil. Foste a primeira mulher que em que pude sentir o quanto ama as mulheres e teu livro me chega com esse amor. Muito obrigada. De coração para coração."

Com amor, Bruna

1 comentário:

Luz de Luna disse...

Grata Rosa sempre direto do coração. Sinto que agora estou dando grandes passos em direção a mim mesma e com seus escritos recebi minha menina como merece.

Um grande abraço de luz