FEMININO VERSUS MASCULINO
Há cerca de um ano vi um documentário na televisão sobre transexualidade, se não estou em erro, no Irão. Entre vários outros depoimentos e testemunhos de “homens” e “mulheres” sobre as razões e os factos que os levaram a optar por mudar de sexo, estava uma sensibilidade feminina ou a paixão por outro homem ou ainda o sonho de ser mulher…no caso dos homens biologicamente machos.
O que eu vi, para além de um sofrimento atroz quer no plano psicológico quer no plano físico, no caso da mutilação genital, era o absurdo e grotesco de uma sociedade regida por preconceitos e dogmas religiosos em que o ser humano é condicionado a viver de acordo com uma história escrita há centenas ou milhares de anos, um mundo cheio de tabus para mulheres e que as aprisiona nas suas leis RETRÓGADAS E ESTÚPIDAS, anti-naturais.
Ora o que nesse e noutros países de fundamentalismo islâmico, assim como o cristão de um modo mais atenuado, é uma definição sexual e psicológica dos seres que não corresponde à realidade do SER em si, À SUA TOTALIDADE. A total ignorância de que o ser humano é um ser ambivalente, contendo em si os dois “sexos” que são a expressão da dualidade inerente a toda a manifestação DE VIDA, sendo o homem expressão visível do princípio masculino (YANG) e a mulher (YIN) do seu oposto, o princípio feminino, mas contendo em cada um o par de opostos complementares. Assim naturalmente homem e mulher são em potencial e em simultâneo feminino e masculino, embora a expressão sexual de cada um deva, em princípio, corresponder ao comportamento macho e comportamento fêmea de acordo com os seus aparelhos genitais. Sabemos no entanto que existem casos de indefinição sexual à nascença, e que não é perceptível aos olhos dos pais e nem aos dos médicos. Então temos os casos de comportamentos contrários ao padrão estipulado, do que é à partida feminino e masculino, tudo tão ridículo como o azul e cor-de-rosa, e aí começam os dramas e as psicoses e também o erro GROSSEIRO de uma ciência reducionista tal com a psicologia por vezes, que não vê mais do que a mente o corpo e órgãos...em separado! Então a “solução” é operar a menina ou o menino e corrigir a natureza… Quando é caso clínico claro, quando não, se for mais do foro psicológico ou hormonal, só na idade adulta o sujeito decide mudar ele próprio de sexo…Aí começam os maiores conflitos, os dramas, as dores, depois dos problemas imensos com a família a perseguição da sociedade a condenação da religião etc…levados até às últimas consequências que é a mutilação genital. Isto no caso do Irão que sendo um país islâmico e fundamentalista, o facto de no Corão estar escrito que não é permitida a sodomia, como não está escrito que não é proibido mudar de sexo, isto dito por um chefe religioso, então a religião islâmica aceita a operação que no fundo é a castração dos seus homens preferível à homossexualidade.
No dia seguinte à operação o homem recebe então um bilhete de identidade de mulher com um nome feminino. E a aberração social ou religiosa começa aí. Porque se a sociedade compreendesse o ser para lá dessa dicotomia dos sexos e das aparências dos factos, se aceitasse as pessoas como elas são essencialmente e naturalmente e para lá das suas ficções religiosas dogmáticas e do fanatismo instituído, da ideia de família restrita, tudo seria mais natural e mais simples. BASTAVA ACEITAR E RESPEITAR A PESSOA HUMANA NA SUA EXPRESSÃO PRÓPRIA E INDIVIDUAL!
Bastava que se alargasse a noção de feminino e masculino, para lá dos conceitos estreitos, bastava que os sexos não tivessem que corresponder a padrões de comportamentos específicos, bastava que se ampliasse a questão para uma dimensão da alma e para o espírito de amor HUMANO E universal e que a liberdade de amar não dependesse de regras leis ou rótulos…
Com isso poupava-se muita dor e muito sofrimento moral e físico. E no fim também seria atenuado o equívoco e o absurdo que é estipularem para cada sexo apetências e aspectos determinados, comportamentos estereotipados e se diferentes sancionados. Nesse mesmo programa vi o caso de um casal homem e mulher, em que o homem era operado, mas a mulher não, que viviam os dois trocados na sua identidade, mas ao fim e ao cabo não sendo nenhum homossexual…a mulher era o homem num corpo óbvio de mulher e o homem que tinha um corpo masculino operado, dançava a dança do ventre para “o esposo” que não era AINDA operada… Ele vestia as roupas que tinham sido dela enquanto ela vestia as roupas que eram dele…disseram.
Moral da história, para que mudaram de sexo? Se afinal viviam como homem e mulher trocando entre si de papéis? E sexos…Que sexos?
Eu também conheci pessoalmente nos anos 70 um dos primeiros transexuais em Portugal…era um homem muito bonito, casado (diziam) com uma psiquiatra e que tinha três filhas, mas amava os homens...depois da operação para mulher ele/ela, passou a gostar de mulheres dizia ele/a…
Haverá algum sentido nisto quando de facto o ser humano é vasto como o mar e um mistério tão grande como o Universo? Sim, o Uno mais o Diverso...
rosa leonor pedro
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