O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, fevereiro 22, 2002

AS CANÇÕES DE ANTÓNIO BOTO
13

Ó sol violento, incendiado
Pelos poentes que ficam
Até que o céu seja estrelado,
Sol dos pintores que não cabem na moldura
Da exposição oficial,
Com ministros e convidados,
Mas tonta de pormenor naquelas minguadas cores
De laboratório banal, -.
O que pensas da pintura actual,
Tão ridícula na pincelada
E sempre falsa e atrasada?

Cantando e gritando na luz do meio dia
Sol da selva, lança mordente das Áfricas,
Vitorioso e cheio de nostalgia,
Adoecendo os falsos poetas que te cantam,
Sempre morto, esverdeado e fedorento,
Queima-os nas tuas brasas entornadas
Para que fiquem sem alento,
E não os deixes mais mentir, nem enganar,
Falsificando a verdade sem te cantar.

Ó Sol das liberdades primitivas da pureza
E sem os preconceitos criminosos da política moderna,
Moderna porque é feia, destituída.
Da sua missão de governar pela justiça,
- Sol sem pretensões e sem grilhetas
Consola de amor e de fé essas raças tristíssimas
E pretas.

Ó Sol das madrugadas reservadas
Para os lamentos das guitarras e do fado
E da moleza,
Faz com que eu seja mais queimado
Trigueiro da cor dos Índios do Amazonas brasileiro,
E leva-me contigo, Sol da poesia
Em que a palavra de uma certeza
Num destino melhor da humanidade
Me possa dar outro sentido
Mais profundo,
Esclarecido e maior
A esta beleza
Sem o senso da inferioridade,
- Essa doença
Que mora num morro de cidade
Com foros de pertencer
A uma certa e digna sociedade,
E não passa de miséria mijada, destituída
E sempre vivendo na descida.


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