O poeta superior diz o que efectivamente sente.
O poeta médio diz o que decide sentir. O poeta inferior diz o que julga deve sentir.
Nada disto tem a ver com sinceridade. Em primeiro lugar ninguém sabe o que verdadeiramente sente...(continua)
Fernando Pessoa
***** ****
A luz do dia quase só me mostra a brutalidade das coisas, a ignorância das causas, a desumanidade dos seres, sem alma, o egoísmo, a vaidade. A própria Natureza parece rebelar-se contra o abuso dos homens que na sua displicência a ignoram e às suas leis. Ao contrário da caixinha mágica que eu toda a vida esperei, parece Ter-se aberto a caixa de Pandora e todos os males afectam agora o mundo ou é porque os vimos através de outra “caixa” que nos filtra o lado negativo de tudo, exclusivamente. As notícias do mundo são os crimes, as guerras, as lutas de seitas e de classes, a miséria dos povos, a fome, as atrocidades. Exaustivamente a insanidade dos homens, o sexo desprovido de amor e ética, bestializado. As mulheres de plástico, cada vez mais sofisticadas e falsas, os homens travestiados, numa adulteração de princípios sem finalidade tudo por alienação do ser em si e de uma consciência primária. O que conta é a aparência e vale tudo para parecer não sei o quê. Ninguém mais sabe quem é quem e o quê...Só conta o exterior! A pessoa em si passou a ser o que vale pela imagem ou pela marca que veste etc.
Todo o sentido de humanismo se perdeu...naturalidade, respeito, responsabilidade, simplicidade, ternura... Sei lá...
**** ****
Nota resposta:
Quando falo da "comercialização da imagem" Uma peça de arte", por exemplo, não falo da imagem verdadeira mas da aparência que se sobrepõe ao valor real das coisas e das pessoas! Quero dizer que todos nós podemos incorrer no risco de nos deixarmos levar pelas aparências e não pelo valor intrínseco, autêntico que por exemplo um livro tem...Hoje em dia os livros em Portugal vendem-se pela capa... pela fotografia da escritora em grande plano que é a mesma que aparece na televisão... e não do interesse do livro, pela sua qualidade ou pela obra em si!...
Falava da forma e conteúdo e de como uma maçã belíssima por fora pode ser podre por dentro...
Como desconheço a sociedade brasileira, pode acontecer que tudo isto fique fora de contexto! Vocês aí têm mais facilidade de fluir... aqui nem tanto. Penso que é o peso do Fado...
Sorry, Heloise!
O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
Sem comentários:
Enviar um comentário