O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, fevereiro 21, 2002

O sonho de um sonho



Quando me levaram na sua plataforma cinzenta e me fizeram entrar num círculo de luz totalmente envolvente eu parei de pensar! Entrei na sua órbita e a partir daquele momento tudo se passava como em câmara lenta. Eles (ou elas) falavam comigo pelos olhos... Todos esses seres eram fascinantes e moviam-se suavemente como que empurrados por uma luz rosa e brilhante que os fazia parecer pálidos e transparentes... Eles (ou elas) “falavam” sem mexer os lábios e sem som, apenas os seus olhos sorriam e se exprimiam com eloquência inusitada, cheios de um amor sereno e envolvente, quente mas sem qualquer emoção neste plano (o humano) identificável.

De cada vez que me olhavam (ou falavam), o meu coração parecia que batia em uníssono e eu compreendia tudo o que queriam sem me impor nada. Tudo o que diziam (ou olhavam) ganhava vida em várias dimensões projectado em música e cores, que se transformavam por sua vez em harmonia pura e todas as células do meu corpo (ou o meu espírito?) dançavam numa alegria única e imparável, sem qualquer alteração da face mas nos olhos de todos a celebração de uma infinita bondade e unicidade. Vi e senti coisas completamente impossíveis de pôr em linguagem humana, mas eu sentia que ficava para sempre com o registo das suas auras e conhecimento de algum modo integrado, quando voltasse à realidade do mundo das dualidades.

Percorri uma cidade movimentada e populada de seres jovens ou de idade indefinida tal como os sexos, muito activos e tranquilos e que se moviam em grande harmonia. Tudo era dourado e rosa, o céu e a paisagem, mas as flores e as árvores possuíam uma infinita gama de tons e a água corria muito límpida de fontes e lagos. Os edifícios não muito altos, e casa de tamanho médio eram brancas, cinza e prateadas. Não se sentia ou tinha a noção de tempo e espaço pois tudo se fundia como se o nosso ser fosse tudo ao mesmo tempo, não havia qualquer separatividade.

Em momento algum me senti estranha ou fora de nada. Cada vez mais compreendia e abrangia aquele universo como parte integrante de mim, sem angústia dúvidas ou dicotomias. Tudo era perfeito e harmonioso. Nada me assustava ou cansava. Depois de muito (ou pouco ?) andar sempre com uma sensação quente de plenitude ou de beatitude, pois as duas sensações eram a mesma, deixaram-me numa sala vasta com intensa luz e uma música inigualável e sem possibilidade de comparação com a maior ou melhor sinfonia deste mundo, pois vibrava e escutava-a dentro e fora de mim como parte de mim mesma, como se a respirasse...

Comigo estava um ser de rara beleza se assim posso dizer, e ela (ou ele?) contava-me coisas acerca da sua existência, diferenciando a existência como somatório de todas as vidas, o que a gente chama de encarnações, e só me lembro de a seguir me ter perguntado se eu sabia com se “fazia” amor ali, e eu disse que não e ela (ou ele), olhou-me de uma outra maneira. Agora, um tudo nada diferente e eu comecei a sentir uma sensação de vibração mais aguda e lenta a penetrar-me pelos olhos até à alma, e o meu coração começou a arder num fogo ardente e insuportável no limiar do prazer e dor que se foi alastrando pelo corpo todo e eu fiquei paralisada em absoluto êxtase, presa nos seus olhos que sorriam-falavam em silêncio e não se moviam e me penetravam bem no âmago do meu ser até me deixarem suspensa numa infinita beatitude, extática.

Só quando deixou de me fixar eu pude a pouco e pouco recuperar um pouco a minha identidade. Mas o seu ser a partir daí amalgamou-se ao meu e eu não conseguia perceber onde começava ela (ou ele) e eu... Ele (ou ela), sorriu (o que me pareceu ser sorrir) e disse sem falar que eu agora era ele ou ela e lhe pertencia para toda a eternidade...

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