O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, agosto 18, 2002



SALOMÉ

Insónia roxa. A luz a virgular-se em medo,
Luz morta de luar, mais alma do que lua...
Ela dança, ela range. A carne, álcool de nua,
Alastra-se para mim num espasmo de segredo...


Tudo é caprixo ao seu redor, em sombras fátuas...
O aroma endoideceu, upou-se em cor, quebrou...
Tenho frio...Alabastro!...A minha alma parou...
E o seu corpo resvala a projectar estátuas.
..

Ela chama-se em Íris. Nimba-se a perder-me,
Golfa-me os seios nus, ecoa-me em quebrando...
Timbres, elmos, punhais...A doida quer morrer-me:


Mordora-se a chorar - há sexos no seu pranto...
Ergo-me em som, oscilo, e parto, e vou arder-me
Na boca imperial que humanizou um Santo...


Lisboa, 3 de Novembro de 1913

MÁRIO DE SÁ-CARBNEIRO




"A APRENDIZAGEM DA REALIDADE SEM ROSTO É DOLOROSA, ASSUSTA, (PORQUE DESTRÓI O EGO) MAS É UMA APRENDIZAGEM QUE SE FAZ"

"LITERATURA E ALQUIMIA" - de Y.K.Centeno

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