O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, janeiro 17, 2022

A mais perigosa de todas as epidemias psíquicas é a Psicose em Massa.



"MENTICÍDIO
COMO A POPULAÇÃO MUNDIAL FICOU (QUASE TODA) MENTALMENTE DOENTE

"A maior ameaça à civilização não reside nas forças da natureza, nem em qualquer doença física, mas na nossa incapacidade de lidar com as forças da nossa própria mente. Somos o nosso pior inimigo ou, como diz o provérbio latino “o homem é lobo para o homem”. Jung afirma que este provérbio é uma triste e eterna banalidade em que as nossas tendências de lobo predador vêm ao de cima nos momentos da história em que na sociedade a doença mental se torna a norma, em vez da excpeção – uma situação que Jung chamou de epidemia psíquica.
“De facto, torna-se cada vez mais óbvio” escreveu ele “que não é a fome, os terramotos, os micróbios ou o cancro; mas o próprio homem, que é a maior ameaça para a sua própria raça, pela simples razão de que não há proteção adequada contra epidemias psíquicas, que são infinitamente mais devastadoras do que as piores catástrofes naturais”.
A mais perigosa de todas as epidemias psíquicas é a Psicose em Massa.
Uma psicose em passa é uma epidemia de loucura e ocorre quando uma grande parte da sociedade perde o contacto com a realidade e entra em delírio. Dois exemplos de psicoses em massa são a caça às bruxas (americana e europeia) dos séculos XVI e XVII, e aquando da ascensão do totalitarismo no século XX.
Quando ocorre uma psicose em massa, os resultados são devastadores. As pessoas envolvidas descem a um abismo de irracionalidade e loucura em que cometem atrocidades em grupo – que jamais ocorreriam se estivessem lúcidas.
A causa mais comum de uma psicose é o medo e a ansiedade, que levam o indivíduo a um estado de pânico. De seguida, naturalmente procura alívio, pois é demasiado desgastante – física e mentalmente – viver neste estado híper-emocional.
Embora a fuga do estado de pânico possa ser realizada por meios adaptativos, como enfrentar e derrotar a ameaça que gera medo, outra forma de escapar passa por um Surto Psicótico. Que não é uma descida a um estado de ainda maior desordem, mas uma reordenação mental na percepção do seu mundo e experiências em que mistura facto e ficção, delírio e realidade – como forma de sossegar o seu próprio pânico.
Silvano Arieti, uma das maiores autoridades em esquizofrenia, explica as etapas psicóticas que levam à loucura: em primeiro lugar, há a fase do pânico – quando o paciente começa a perceber as coisas de uma maneira diferente, fica assustado, parece confuso e não sabe explicar as coisas estranhas que estão a acontecer.
O próximo passo é o que Arieti chama de fase de insight psicótico, em que um indivíduo consegue colocar as coisas juntas, criando uma forma patológica de ver a realidade, o que lhe permite explicar e “ver” as suas experiências. Mas o insight é psicótico, porque se baseia em ilusões, não em formas adaptativas e promotoras de vida, de se relacionar com as verdadeiras ameaças que originaram o pânico. E assim perde o contacto com a realidade. Ou seja, uma forma anormal de lidar com um estado de extrema ansiedade através de ameaças reais, imaginárias ou fabricadas. Os delírios podem assumir muitas formas, e a loucura pode manifestar-se de várias maneiras, e assim, uma psicose em massa desdobra-se na população de modo diferente consoante o contexto histórico e cultural da uma sociedade infectada. Na era moderna a psicose em massa do totalitarismo representa a maior ameaça.
Numa sociedade totalitária, a população é dividida em dois grupos, os governantes e os governados, e ambos os grupos passam por uma transformação patológica.
Os governantes são elevados a um estado quase divino que é diametralmente oposto à nossa natureza como seres imperfeitos que são facilmente corrompidos pelo poder.
As massas, por outro lado, são transformadas em sujeitos dependentes desses governantes patológicos e assumem uma regressão psicológica, que apenas torna uma mente sã numa mente doente e é construída e sustentada por delírios, pois apenas homens e mulheres iludidos regridem à condição infantil de súbditos obedientes e submissos e entregam o controle completo das suas vidas a políticos e burocratas.
Não menos iludida é a classe dominante que acredita possuir o conhecimento, sabedoria e perspicácia para controlar completamente a sociedade de cima para baixo. E somente quando sob o feitiço de delírios é que se acredita que uma sociedade composta de governantes sedentos de poder, por um lado, e uma população psicologicamente regredida, por outro lado, levará a qualquer coisa além do sofrimento em massa e ruína social.
A psicose em massa do totalitarismo foi induzida muitas vezes ao longo da história. Trata-se duma reorganização e manipulação de sentimentos coletivos. O método geral pelo qual os membros de uma elite governante conseguem realizar este fim é chamado de “menticídio”: um assassinato da mente e do espírito humano. É um sistema organizado de intervenção psicológica e perversão judicial, através da qual a classe dominante incute uma forma de pensar sobre as mentes daqueles que planeiam usar e destruir.
Preparar uma população para o crime de “menticídio” começa com a disseminação do medo, usando ondas de terror. Sob esta técnica, o medo é intercalado com períodos de calma, seguido pela manipulação e introdução intensa de mais medo, e o processo continua… cada onda de terror cria os seus efeitos mais facilmente após cada intervalo – como um feitiço – porque as pessoas ainda estão perturbadas da experiência anterior. A moralidade torna-se cada vez mais baixa, e os efeitos psicológicos de cada nova campanha de propaganda tornam-se mais fortes. Com a mente vergada, o público vai amolecendo. O uso de propaganda, de relatos contraditórios, informações sem sentido e mentiras flagrantes. Enquanto as pessoas ainda procuram entender a primeira mentira, os média introduzem outras… quanto mais confusão, menos capaz será a população de lidar com a crise, e combater o medo, de forma racional. A confusão aumenta a suscetibilidade duma descida às ilusões do totalitarismo. Facilmente se aceita abalroar os direitos de cidadania em nome duma suposta segurança.
Nunca antes na história existiram meios tão eficazes para manipular uma sociedade na psicose do totalitarismo. Smart phones e redes sociais, televisão e internet, tudo em conjunto com fact-checkers que espalham propaganda e algoritmos que rapidamente censuram o fluxo de informações indesejadas, permitem que aqueles no poder assaltem facilmente as mentes das massas. Além do mais, a natureza viciante dessas tecnologias faz com que muitas pessoas se sujeitam voluntariamente à propaganda da elite dominante.
A tecnologia moderna ensina o homem a dar como certo o mundo para o qual ele está a olhar; ele não tem tempo para se afastar, refletir e processar informação. É atraído, sem descanso, sem meditação, sem reflexão, sem conversa – os sentidos estão continuamente sobrecarregados de estímulos. O cidadão deixa de questionar o mundo; o ecran dá todas as respostas prontas.
Mas há mais um passo que os globalistas deram para aumentar as hipóteses de uma psicose totalitária: isolar as vítimas e cortar interações sociais normais.
Quando sozinho e sem interações normais com amigos, familiares e colegas de trabalho, um indivíduo torna-se muito mais suscetível a delírios por várias razões. Em primeiro lugar, eles perdem o contato com a força corretiva do exemplo positivo, pois nem todos se deixam enganar. E os indivíduos que veem através da propaganda podem ajudar a libertar outros do ataque “menticidio”. Se, no entanto, o isolamento for imposto, o poder desses exemplos positivos diminuem muito.
Mas outra razão pela qual o isolamento aumenta a eficácia do “menticidio” é porque, como muitas outras espécies, os seres humanos são mais facilmente condicionados a novos padrões de pensamento e comportamento quando isolados: o reflexo condicionado pode ser desenvolvido mais facilmente num laboratório silencioso com um mínimo de estímulos perturbadores. Todos os treinadores de animais sabem disso por experiência própria: isolamento e a repetição de estímulos é necessária para domar animais selvagens. Os globalistas seguiram esta regra. Eles sabem que podem condicionar as vítimas mais rapidamente se forem mantidas em isolamento.
Sozinho, confuso e castigado por ondas de terror, uma população sob o ataque de “menticídio” desce a um estado desesperador e vulnerável. O fluxo interminável de propaganda transforma mentes, antes capazes do pensamento racional em cenários de forças irracionais. E com o caos a girar à volta deles, e dentro deles, as massas anseiam por um retorno a um mundo com mais ordem.
Os globalistas podem agora dar o passo decisivo: oferecer uma saída rápida ao caos na direção oposta. Mas tudo isso tem um preço: as massas devem desistir da sua liberdade e ceder o controle de todos os aspectos da sua vida à elite governante. Abrindo mão da sua capacidade de serem indivíduos auto-suficientes responsáveis pelas suas próprias vidas, e tornarem-se súbditos, submissos e obedientes.
Por outras palavras, as massas devem cair nas ilusões da psicose totalitária, onde a razão e a decência humana comum não são mais possíveis em tal sistema: há apenas uma atmosfera generalizada de terror e uma projeção de um "inimigo", imaginado que esteja no seu seio (por ex., um vírus). Assim, a sociedade gira sobre si mesma, instigada pelas autoridades governantes.
Mas a ordem de um mundo totalitário é uma ordem patológica. Impondo uma submissão estrita e exigindo uma obediência cega de cidadania, o totalitarismo livra o mundo da espontaneidade que produz muitas das alegrias da vida e a criatividade que impulsiona a sociedade. Esta forma de total controle (não importa que nome tenha) quer seja governado por cientistas e médicos, políticos e burocratas, ou um ditador, gera estagnação, destruição e morte em grande escala. E então, talvez a questão mais importante que o mundo enfrenta é como evitar o totalitarismo? E se uma sociedade foi induzida aos primeiros estágios desta psicose em massa, os efeitos podem ser revertidos?
Embora nunca se possa ter certeza do prognóstico de uma loucura coletiva, existem passos que podem ser dados para ajudar o processo de cura. Esta tarefa, no entanto, requer muitas abordagens diferentes, de muitas pessoas diferentes.
Pois, assim como o ataque “menticida” é multifacetado, também deve ser o contra-ataque.
De acordo com Carl Jung, para aqueles de nós que desejam ajudar a devolver a sanidade a um mundo insano, o primeiro passo é pôr as suas próprias mentes em ordem, e viver de uma maneira que sirva de inspiração para outros seguirem.
Não é à toa que a nossa época clama pela personalidade redentora, por aquele que se pode emancipar das garras desta loucura coletiva, e salvar pelo menos a sua própria alma, que ilumine um farol de esperança para os outros, proclamando que há pelo menos um homem que conseguiu libertar-se desta fatal loucura colectiva.
Mas, supondo que alguém esteja a viver de uma maneira livre das garras da psicose, há outros passos que podem ser dados: em primeiro lugar, informação que vá contra a propaganda deve ser espalhado tanto quanto possível. Pois a verdade é mais poderosa do que a ficção e as falsidades vendidas pelos globalistas e, portanto, o sucesso deles depende em parte da capacidade que têm em censurar o fluxo livre de informação.
Outra tática é usar o humor e ridicularizar a legitimada da elite governante, porque o demagogo e os aspirantes a ditadores têm pouca habilidade para lidar com o humor. E se os tratarmos com humor, eles começam a sucumbir.
Uma tática recomendada por Vaclav Havel (o dissidente político durante o governo soviético, que mais tarde se tornou presidente da Checoslováquia) é a construção das chamadas “estruturas paralelas”. Uma estrutura paralela é qualquer forma de organização, negócio, instituição, tecnologia, ou busca criativa que exista fisicamente dentro de uma sociedade totalitária, mas moralmente à margem. Havel observou que essas estruturas paralelas foram mais eficazes no combate ao totalitarismo do que acções políticas. Além disso, quando várias estruturas paralelas são criadas, forma-se uma "segunda cultura" ou "sociedade paralela" que funciona espontaneamente como um enclave de liberdade e sanidade dentro de um mundo totalitário.
Ou, como Havel explica: o que mais são estruturas paralelas do que uma área onde uma vida diferente pode ser vivida, uma vida que está em harmonia com seus próprios objetivos e que por sua vez se estrutura em coerência com esses objetivos? O que mais são essas tentativas iniciais de uma parte da sociedade se auto organizar dentro da sociedade... para se libertar radicalmente do seu envolvimento no sistema totalitário?
Mas, acima de tudo, o que é necessário para evitar uma descida completa à loucura do totalitarismo é uma ação do maior número possível de pessoas.
Pois assim como a elite governante não se senta passivamente, mas em vez disso, dá passos deliberados para aumentar o seu poder, também um esforço activo e concentrado deve ser feito para levar o mundo de novo na direção da liberdade.
Isso pode ser um imenso desafio num mundo que é vítima das ilusões do totalitarismo, mas, como Thomas Paine observou: “A tirania, como o inferno, não é facilmente conquistada; ainda temos este consolo connosco, que quanto mais difícil o conflito, mais glorioso o triunfo."
António Gomes
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Lisboa: Fila à entrada do Teatro Nacional D. Maria II, para mostrar o certificado.
08.01.2022


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