O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, janeiro 27, 2022

É novamente tempo de Pandora, Lilith ...




Por entre risos e lágrimas, Pandora sobreviveu.

Surgida para a vida no meio de uma intriga entre Zeus e Prometeu — que havia engendrado os primeiros homens — foi ela o “presente” idealizado pelo Senhor do Olimpo para dele se vingar, infelicitando a sua criação: “dar-lhes-ei um presente funesto que lhes encantará a alma, e adorarão o seu próprio flagelo” (Hesíodo, em “Os Trabalhos e os Dias).
Zeus ordenara a Hefesto que engendrasse uma criatura maravilhosa, semelhante a eles, os deuses imortais.
Surgiu, assim, um demônio feito mulher, para castigar a ousadia do titã Prometeu e a humanidade por ele gerada. Por força da ordem de Zeus, os demais deuses se excitaram para adorná-la com suas “bênçãos”, com o intuito de fazer dela um objeto de cobiça a quem ninguém poderia resistir.
“Os deuses imortais e os homens mortais iriam maravilhar-se com a visão desta armadilha, profunda e sem saída, destinada aos humanos. Pois foi dela que saiu a raça, a súcia maldita das mulheres, terrível flagelo instalado no meio dos homens mortais” (Hesíodo, na “Teogonia”).
Aos poucos, porém, ela mesmo foi quem construiu o seu psiquismo de primeira mulher-humana, contrariando por completo as expectativas dos deuses do Olimpo. Sua história representa a jornada da humanidade que, também desprezada pelo seu autoproclamado mentor-criador, percebeu-se como pecadora ainda mesmo antes de ter cometido qualquer equívoco intencionalmente.
Apesar de ter sido bem mais famosa que a Eva atualmente conhecida, as páginas do seu passado perdido foram recitadas bem antes, nos contos pré-helênicos, quando sequer havia surgido o povo hebreu que imortalizaria outra personagem feminina no seu lugar de mãe de uma nova geração de humanos.
É sobre a sua vida acontecida em tempos imemoriais que o seu legado de progenitora agora se faz apresentar pelos túneis de um tempo que a esqueceu, mas cujos alicerces jamais soçobraram, mantendo-o vivo até a atualidade, e eis que agora ele se renova.
É novamente tempo de Pandora, só que nesses tempos atuais ela traz consigo uma outra “caixa” que somente parece conter revelações de episódios que precisam ser resgatados no presente, possibilitando um futuro de coexistência entre pares de uma novela cósmica que está longe de ter seu fim.
A própria voz da sua estranha personalidade, do seu modo único de contar uma história perdida nas brumas de um passado esquisito e perverso, é que agora ecoa desde o pretérito desconhecido até o presente, para ser revelado aos seus descendentes.
Começa, portanto, o fim do seu silêncio!

jan val ellam

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