O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, setembro 10, 2002



O ONZE DE SETEMBRO

Mas eu vos digo que tal como o mais santo não pode elevar-se acima do mais sublime em cada um de vós, tão pouco o pior malvado pode cair mais baixo que o que de mais baixo existe em cada um de vós.

In O PROFETA de Khalil Gibran

Encontro-me numa cidade europeia sufocante de poluição e ruído, onde há cada vez mais pessoas a correrem mais e mais depressa. Aspectos reminiscentes dessa outra metrópole onde há um ano o horror vivo se acendeu inesperadamente, espalhando morte, destruição, trauma, pesadelo, luto. O mundo, estupefacto, assistiu em directo à queda instantânea das duas torres do World Trade Center, em Nova Iorque, a capital do “Império”, num acto de terrorismo simplista mas extraordinariamente bem sucedido.
O terror feriu violentamente o corpo emocional dos povos da Terra mas, por todo o lado, começando pelos valentes novaiorquinos, a solidariedade e a coragem eivadas de lágrimas emergiram. Trabalho insano e agonia no coração viveram lado a lado durante meses. E pouco a pouco, a vida naquela cidade que nunca mais será a mesma, foi voltando a uma aparente normalidade.
Diante dos grandes horrores, a humanidade tende a buscar o sentido oculto das coisas. As duas torres, mitos ascensionais e de vigilância do mundo do deus Mammon, estrategicamente colocadas na mais poderosa cidade do planeta, cairam debaixo dos nossos olhos perplexos, numa questão de minutos, como cartas mal colocadas. Para sempre, arrastando consigo milhares de vidas e a sensação (falsa, sabemos agora) de segurança em que pelo menos os povos do mundo ocidental viviam.
Em vez de fazermos aquilo que os políticos são peritos em afirmar, ou seja, dividir o mundo em bons e maus, seria bom que atentássemos no facto de que todos estamos ligados na mesma rede energética operante no planeta que habitamos e que, nessa medida, somos todos responsáveis através das nossas opções - que incluem as omissões, outra forma de optar – pelo descalabro, pela perversidade, pela morte da vida que ainda o deveria ser mas já não é.
Não estamos acima de nada, nem fora de nada.



A paz e a segurança porque ansiamos só poderão emergir do coração da Grande Mãe, o lado feminino do ser, que nada entende de ganâncias e lucros à custa do sofrimento dos seus filhos. Ela é toda dádiva, calorosa entrega às necessidades dos menos privilegiados, e sabe dividir equitativamente o pão entre os seus. Ela é a infinita criatividade, capaz de gerar luz e harmonia onde dantes grassavam a confusão e a obscuridade.
Às mulheres e aos homens, meus companheiros no planeta Terra, eu lanço do fundo do meu coração o apelo à mudança nos ideais e objectivos de vida. A consciência do todo tem de se substituir à das partes. E isso só acontecerá quando formos capazes de identificar correctamente a nossa implícita responsabilidade no comportamento de todos os seres humanos
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MARIANA INVERNO
Fundadora do PROJECTO Art for All

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