"Toda a mulher que luta por uma mudança é sempre punida e esse é, efectivamente, o mundo real que descrevo."
PAULINA CHIZIANE - escritora moçambicana
UMA VOZ DO AUTÊNTICO FEMININO
"Os esforços de reestruturação institucional e o conservadorismo, em conflito permanente, são narrados por Paulina Chiziane mediante olhares e falas femininas. As mulheres são, ainda, mantidas fora dos círculos modernizadores, e se beneficiam muito pouco com as mudanças. As novas feições da sociedade as mantêm destinadas aos serviços, ao prazer e ao conforto dos homens, na aldeia ou na cidade."
(...)
"No entanto, reivindica-se como feminista! «Entre aspas», esclarece. «Quando falo de feministas estou a falar de 'feminino'. Eu sou feminina, sou mulher, por amor de Deus! As minhas personagens femininas não fazem rupturas porque é assim mesmo entre nós e eu só descrevo a realidade. Nos movimentos feministas elas acabam por seguir o modelo masculino, que eu não acho assim tão bom para seguir... Sou pelo respeito pelas diferenças. Mulher é sempre mulher, sempre será. O homem tem o seu papel masculino, ponto final. Complementam-se. Uma mulher emancipada que não precisa dos outros... eu não gosto da palavra 'emancipação', porque afinal caminhar para uma civilização onde as pessoas não sentem a falta umas das outras é um bocado contra as leis da harmonia universal.»
O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
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