O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, janeiro 12, 2007

UM ESTADO LAICO QUE SE NÃO PREZA...



“Sou pagã e anarquista, como não podia deixar de ser uma pantera que se preza ”


Florbela Espanca
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O cardeal do dia seguinte

Fernanda Câncio
fernanda.m.cancio@dn.pt
"José Policarpo é um homem surpreendente. Há mês e meio, dizia que a Igreja Católica (IC) não se devia envolver "activamente"na campanha do referendo e que quem tivesse dúvidas devia abster-se. Agora, decidiu escrever um texto por semana sobre o assunto. O primeiro, datado de 7 de Janeiro, faz revelações extra- ordinárias, entre as quais se conta o facto de o cardeal-patriarca considerar que a alteração proposta no referendo não se justifica porque "o cruzamento dos métodos anticonceptivos com os métodos abortivos e as soluções químicas para a interrupção da gravidez" diminuiu "a realidade do aborto de vão de escada"e trouxe "a decisão de abortar para o campo da liberdade pessoal e da consciência".
(Excerto do dn)

No dizer do Cardeal de Lisboa “o campo de liberdade pessoal e da consciência” representa a negação dessa capacidade e liberdade às mulheres! Representa a secular desconfiança dos padres e da sociedade patriarcal das mulheres como seres livres e capazes de decidir das suas vidas independentemente das leis e dos seus dogmas. Perigosa e ameaçadora é a liberdade de consciência das mulheres pois é essa capacidade de decidir por si próprias que os padres da Igreja católica querem mais uma vez impedir as mulheres de terem… Porque são ainda as mulheres ignorantes e humildes, as mulheres mais pobres e atrazadas, que eles manipulam à vontade pelo medo ancestral do pecado, que nas vilas e aldeias e mais algumas tiazinhas da cidade falhadas, enchem as igrejas e alimentam os seus padres ressaibiados e frustrados.
Se as mulheres tiveram alguma consciência e capacidade de decisão elas verão o quão foram enganadas e exploradas pelos padres misóginos ou abusadores e a sociedade que as mantém refens da procriação e dos maridos há séculos!

Volto a perguntar-me como é que o papa, padres bispos e cardeais opinam sobre a lei da despenalização do “Aborto”, quando estes indivíduos à partida, pelo celibato, repudiam a mulher e negam a paternidade, desconhecendo o sentimento de pai tanto quanto o drama da mulher para dar à luz e mais quando em risco de vida dela ou da criança?

Não são eles afinal logo à partida, na sua opção de carreira eclesiástica de servir a deus, quem “abortam” a sua vida, negando o próprio instinto de vida, a natureza e o amor da mulher?…
Se eles prezam tanto a vida humana como é que se abstêm de ter filhos e tantos acabam por violar crianças indefesas?
Que seres humanos são estes que deliberam e acusam aquilo que desconhecem em nome da vida e da natureza que negam?


Por isso, como dizia Pessoa, "Sou um cristão gnóstico, inteiramente oposto a todas as igrejas organizadas e, sobretudo, à Igreja de Roma."

FERNANDO PESSOA,

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