Jean Markale
Estamos ainda entre dois mundos... Um mundo velho que se esvai em convulsões e agonia, que mata os seus filhos, que dilacera. Estamos no fim de um mundo que era só razão e exclui sentimentos e intuição e em que a luta das mulheres quase que parece vã...Houve desvios culturais graves na história da humanidade que as prejudicaram mais directamente na falta de verticalidade e dignidade a que foram sujeitas, mas que prejudicou directamente também os seus filhos... Os homens têm de recuar na imposição da sua força e prepotência, tem de abandonar a sua arrogância e violência de machos e aprender a amar e respeitar a mulher e a terra! A amar o seu próprio feminino sem o qual não poderão amar-se a si próprios. Porque sem elevarmos o Feminino à sua representação mais elevada do ser mulher mais do que ser apenas amante ou mãe, nunca a humanidade se vai libertar da sua escravidão. Porque a Mãe da Humanidade está dividida em duas metades uma contra a outra no mundo inteiro. Uma dualidade que não é só dualidade de critérios, mas cisão da própria mulher em duas, perpetuada por valores de superioridade e inferioridade, cabendo à mulher sempre o papel inferior e negativo...
Este é o velho mundo do amor e do ódio sempre em alternância e sem descanso.
Todas a escravidão exercida pelo homem sobre os outros homens teve início com a escravidão da mulher e porque a Mãe livre e digna faltou, votada ao silêncio e ao descrédito, os homens destruíram o mundo pela guerra.
Os homens quiseram assumir a paternidade do mundo, mas só geraram a divisão e o ódio entre irmãos...Desde Abel e Caim…
Dividiram terras, países bens e mulheres! Mataram milhões de seres humanos.
A mulher sofreu tanto ao longo destes milhares de anos que nada poderá justificar, nem a razão nem o pecado, nada justifica esse sacrifício inaudito. Apenas a loucura e prepotência dos homens que não viram que o seu poder era usado em cima do sacrifício da própria Mãe e que eles seriam as SUAS vítimas mais próximas.
Toda a face do mal deste velho mundo em estertor, dividido em duas metades, foi projectado na mulher. A mulher foi a cobaia e o bode expiatório de todos os homens, mesmo dos escravos e dos mais fracos e é preciso que isso fique claro de uma vez por todas, pois só depois de se compreender este erro crasso contra metade da humanidade, e com o qual ainda compactuamos todos, homens e mulheres, o mundo chegará a um novo consenso e atingirá uma nova consciência. Essa Consciência nada tem a ver com a velha consciência da moral podre dos patriarcas, nem com a ordem social vigente neste mundo, mas com uma consciência alargada, não linear. Com uma nova visão do mundo e da mulher, um novo mundo que se aproxima ainda que invisível …
O universo dos homens foi a razão, o intelecto: análise e separação. O universo das mulheres é a intuição, o sentimento: percepção e síntese. Estes dois mundos têm de se encontrar e cruzar dentro de cada ser.
Cabe à mulher o papel de mediadora uma vez liberta das suas amarras e quando na posse do seu dom de iniciadora, tanto do amor do filho como do amante, pois a mulher é iniciada por natureza e essa foi e é a sua função na Terra.
Amar-se e amar os outros como a si mesma!
Assim o homem também quando a mulher for Mulher.
(republicando - r.leonor pedro)
pintor- Nguyen Dinh Dang
Sem comentários:
Enviar um comentário