O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, dezembro 06, 2007

O Medo de mulher


Por Ricardo Kelmer 2007 - http://www.ricardokelmer.net/


Homens que agridem mulheres... Homens que atacam prostitutas, saem na rua atirando em travestis... O que leva um homem a cometer coisas tão deploráveis? Diversos fatores podem estar envolvidos. Mas, dentre todos, há um fator mais profundo que todos, mais antigo... É o medo da mulher.

Instintivamente todo homem teme a mulher. É claro que a maioria dos homens, se perguntado, certamente negará, ou levando a coisa para o lado da piada jocosa ou se irritando com o que ele pensa ser um questionamento de sua masculinidade, oh, a sagrada masculinidade. Calma, meu amigo macho. Esse medo não tem necessariamente nada a ver com homossexualidade. Trata-se do velho temor do feminino, um sentimento arquetípico, que sempre fez parte de nossa psique, tão natural quanto o desejo sexual que sentimos pela mulher. Esse medo existe, sim, e se não o reconhecemos, o danado nos acompanha vida afora, se refletindo em nossa relação com as mulheres. Pior que isso: o medo do feminino faz surgir religiões e sociedades machistas, que reprimem violentamente as mulheres, negando-lhes direitos básicos, tornando-as propriedade dos homens e até mesmo queimando-as em fogueiras.

Mas... por que esse temor?A mulher é um imenso mistério, que o homem jamais alcançará. É o mistério sagrado da própria vida. É através do corpo feminino que a vida se concretiza no plano físico. A mulher é a Natureza humanamente representada em suas curvas, saliências e reentrâncias: ela é o rio sinuoso que hipnotiza o olhar, montes que graciosamente se elevam da superfície, cavernas escuras que guardam segredos... É feita de ciclos a mulher, renovando-se a cada lua para em seguida oferecer-se novamente fértil e receptiva. Como não temer algo que tem o poder de gerar e nutrir a vida? E, caramba, como não temer um bicho que sangra durante dias e não morre?

É bem antigo o medo da mulher. Milhões de anos atrás percebemos que viemos todos de dentro dela - e até hoje isso nos maravilha e assusta. Percebemos também que ela se comporta como a Natureza em suas estações, alternando ciclos, e isso nos fez entender que o masculino é Sol enquanto o feminino é Lua. Se aquele é o mesmo todos os dias, esta não cansa nunca de se experimentar em sua natureza mutante. Se elas são naturalmente iniciadas pela vida, eles não, eles precisam inventar iniciações. Ao menstruar, a mulher está a repetir, mesmo sem consciência disso, seu íntimo ritual sagrado de fertilidade. Isso tem o poder de conectá-la com a sabedoria instintiva de seu corpo e com os ciclos naturais do planeta. O sangue é o fluxo da vida, que vem da caverna escura, lá onde se guarda o feminino misterioso e profundo. E são poucos, bem poucos, os homens que têm coragem de ir lá. Fisicamente eles vão, sim, mas apenas tocam o feminino, nunca dançam com seu mistério. Homens fazem guerra porque a guerra vem do Sol. Mas poucos, bem poucos, são homens o suficiente para fazer amor com a Lua. E no entanto... a Lua sempre esteve dentro deles!, desde o momento em que os princípios masculino e feminino se uniram para gerá-los. São homens simplesmente porque neles é a porção masculina a dominante, e é isso que os faz mais agressividade e razão e menos suavidade e sentimento - mas se não houvesse também em sua alma a porção feminina, não seriam pessoas mas uma inconcebível aberração psicológica.

Ao negar o feminino em si, esses pobres homens negam também, sem perceber, sua própria totalidade, e assim buscarão inutilmente mil coisas pela vida, sem que nada os possa completar, e morrerão frustrados, sem sequer entender o que lhes faltou. E o que lhes faltou foi sua própria alma inteira. Homens agridem mulheres porque elas são o próprio princípio feminino encarnado diante de seus olhos fascinados e temerosos. Sua presença os faz lembrar, inconscientemente, do que eles mais temem admitir. Sim, temer o feminino é normal, é humano. Mas negá-lo não. O homem que nega o feminino, meu amigo macho, declara guerra a si próprio. Bem melhor, mas muuuito melhor, é fazer amor com o feminino.
(...)

Ricardo Kelmer é escritor, letrista e roteirista e mora em São Paulo, Terra, 3a. Pedra do Sol
(texto deixado por anónimo)

7 comentários:

Lealdade Feminina disse...

Nos relacionamentos dominados pelo amor romântico a sexualidade está totalmente equivocada... são poucos os homens que se permitem serem sensíveis e sensuais, sem serem classificados como homossexuais... eu conheço muitos homossexuais, que gostam de mulher, mas são repudiados pela sua sensibilidade... então ficam com os machos, mais disponíveis para eles... entre dois homens há muito mais romantismo e sensualidade do que entre homem e mulher, qualquer pessoa que já tenha convivido com gays sabe bem disso... pra muitos isso é apenas ficção, uma coisa fora da realidade... sei lá... tô cansada hoje... depois eu comento...mais...

Lealdade Feminina disse...

Como diz o Caetano (Veloso):
"Quem tem pau tem medo!"

Mulher sangra todo mes, sem ter nenhuma ferida, e nem morre... ainda somos a bruxa da noite, a velha com segredos, a mulher que corre com lobos, a bacante que dança nua para a lua cheia...

Anónimo disse...

Nós não dizemos assim...aqui a frase é outra. A palavra certa para nós é mais banal mas para vocês é pesada... por isso a trocam por outra...não é bem assim não...o Caetano sabe ou não sabe a palavra certa mas garanto-lhe que muda muito o sentido.
Quanto ao romantismo dos homens uns com outros depende se eles são femininos ou machos...enfim. complicado!
abraço
rosa leonor

Juliana Xavier disse...

fiquei curiosa ué... ah, deve ser c*`né...rs... pois é... mas quem tem pau é que tem medo de levar no c*... ai Rosa desculpe o baixo calão mas não resisti... é dos hormônios, hj tô impossível...rs...

Anónimo disse...

Bom...acertou! claro que desculpo...mas não consigo ser assim tão directa. Como tenho dito, vocês brasileiros tem mais liberdade de espressão. Aqui se eu digo "tesão" tenho uma amiga que fica tão chocada como se eu estivesse a matar alguém...Tenho uma amigo espanhol que fica espantado com a nossa hipocrisia, porque falamos calão na vida real, mas na televisão não podemos dizer merda...
Para mim depende da circunstância e também do momento.

abraço
rleonor

Lealdade Feminina disse...

Não foi difícil...rs... Mas acho que o Caetano quis mesmo dizer quem tem pau tem medo, pq cu mulher tbm tem, e ele se referia ao fato de as mulheres serem muito mais corajosas e lutadoras que os homens...

Lealdade Feminina disse...

Eu acho que as gerações pos 25 de Abril não são assim tão pudicas, alias muito pelo contrario, ne... virou um lassez-faire e a meninada tá é maluca... mas é como disse no meu blog, é uma compensação natural, depois de muita repressão, vem uma fase de desbunde, depois equilibra...será? sei lá... mil coisas...rs... beijo