O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, março 01, 2002

“Neste momento, as vacas estão gordas, o vinho está maduro,
as mulheres lascivas e os homens não prestam para nada.”

Hesiodo

A PROPÓSITO DA IDADE MÉDIA

Não sei o que faz com que as pessoas ao fim de tantos séculos de História e Romances vivam o mesmo enredo com tão poucas variantes. Não entendo como é que se pode ainda viver o mesmo drama repetidamente. Como é que podemos encarar o mundo tão alienados, sem ver que ele nada evoluiu no essencial e que todos vivemos presos nos mesmos erros; a mesma luta entre mal e bem sem ver que nada mudamos se calhar desde a “pré-história”...

Que a ciência e a técnica em quase nada contribuiu para a nossa evolução interior, que os conceitos básicos e mesmo o conhecimento em geral nada mudou. Que a História está baseado numa desigualdade de raíz, de domínio e autoritarismo de uma metade sobre outra metade da humanidade!

Que ilusão é que podemos ter numa civilização que nada tem de fraterno nem de autêntico, sabendo que uma metade da humanidade domina a outra metade e as mulheres são exploradas desde os primórdios desta história? - que o que domina os homens é ainda a sua violência e poder sobre os mais fracos, nomeadamente sobre as mulheres e todas as religiões as desfavorecem e imperam os mesmos tabus e dogmas que matam à fome e de pestes como na idade média, sendo o suporte mesmo da grande mentira que é o “Deus” dos muitos nomes. O seu deus todo poderoso que mata e esfola em todo o mundo, tenha ele que nome tenha, Alá ou Jeová, em seu nome sempre se matou e tortura ainda! Esse mesmo “deus “ que manda apedrejar a mulher adúltera...

E agora? Só se mata muito mais sofisticadamente apenas, em crueldade nada mudámos! Não superamos em nada a vida instintiva, egoísta, animalesca. É sempre a violência que impera! Que hipócritas que somos todos nós ocidentais, escritores e poetas, filósofos e artistas, políticos e filantropos que se julgam o supra-sumo ou a elite de uma sociedade e mais não se faz do que entreter e negociar, fingir e simular a vida, desviando as pessoas da sua realidade íntima, da interrogação fulcral que é a razão de estarmos vivos e morrermos em lutas e guerras? Seria essa pergunta o sinal da diferença uma vez que o animal não se questiona.

Mas o homem não tem emenda e a sua inconsciência e ganância em dominar, fará com que destrua o planeta. Daqui a dez anos não haverá espaço senão para carros. Para terem empregos e manter uma “economia” os homens fabricam as armas com que destruirão a face da terra e a si próprios! Criaram animais, para comermos, por processos pervertidos (contra natura) e agora morremos nós da doença e dizemos que as vacas estão loucas e matamo-las como moscas... Os governos dominados pelos impérios do dinheiro, nada fazem e lutam como cães a volta do osso. Degladiam-se entre falsos problemas e falsas soluções, entre acusações e denúncias, manipulando a opinião pública através das televisões e dos média em geral, todos apostados na informação, todos vendidos não a um regime, mas a uma mais valia de prestígio pessoal ou domínio de mercados, ou de canais. É tudo igual, tudo é espectáculo. Não há nem se respeitam sentimentos. Nem nos hospitais nem nos cemitérios!

Fala-se muito, mas a “vontade política” não existe por si só! É uma farsa ou uma fraude, porque o que falta é consciência humana; a vontade humana que nos falta a todos é a vontade humana de mudar que tem de passar por uma consciência que não é nem política nem religiosa, mas uma consciência Nova. Uma consciência de Amor universal real e não conceptual. Que nasce do RESPEITO DE TODOS OS SERES HUMANOS E ANIMAIS e PELA NATUREZA. É o despertar dessa consciência que marca toda a diferença e essa é a aposta num trabalho interior, psicológico profundo, que ninguém quer fazer, porque não se vê nem dá louros... As pessoas são escravas do consumo e nada mais e para isso são dirigidas.

A alienação não começa na droga, nem no crime ou na prostituição. A alienação começa na total falta de consciência das nossas prioridades. Nas operações de plástico, na falsa IMAGEM da mulher apenas como projecção do imaginário masculino, no carro, veículo suporte do ego social, que bem demonstra nas estatísticas as mortes por acidente de homicidas inconscientes na sua afirmação de personalidades: prioridades? “Eu e eu, eu e eu e moi”. Até tem piada... como é que se quer que se olhe para o outro? Se o outro é ainda o carro da nossa eleição e é para ele que vivemos e votamos? Falamos em qualidade de vida, mas perdemo-nos no consumo absurdo iludidos e dominados pelas publicidades....
Todos queremos mais e mais: gasolina mais barata, carros feitos às dezenas por minuto e todos os produtos inventados que fazem o lixo do planeta a curto prazo, até ninguém poder respirar e os cemitérios de LATA e de pessoas estiverem lotados; enquanto isso o cancro prolifera, os roubos e os crimes tal e qual como nos filmes! e tudo isto alimenta a saga dos polícias e ladrões! Dum lado deixamos o diabo à solta... do outro rezamos a missa das boas intenções de um mundo mais justo...

Cegos a guiar cegos para o precipício.
Já não destinguimos o crime do sacrifício, o criminoso do justo, o herói do cobarde...
Este é o mundo dos Homens e as suas leis!

Artigo editado na revista "Espaço & Design"

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2 comentários:

Beatriz disse...


Pois minha cara, você nunca ouviu a frase "plus ca change, plus ca c'est la même chose?

rosaleonor disse...

como é que você descobriu um texto de 2003? j
a reparou, dez anos...?
e eu pergunto-me ainda se mudou alguma coisa...Sim, eu...
(enfim nem sei se lerá esta "resposta"...)

rlp