O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
terça-feira, março 05, 2002
Um escritor com Luz...
Há escritores que dão livros todos os anos, tão inevitavelmente com as macieiras dão maçãs.Hoje não é possível ser-se apenas autor de um único livro - mesmo que seja notável - sem se encorrer na suspeita de haver contraido qualquer doença vergonhosa. Nesta tramóia, o único que conta é o espectáculo. Animado e faustoso, é certo - como um grande funeral. Depois, toda a gente volta para casa e faz-se silêncio no cemitério. Um silêncio rumoroso, entenda-se, povoado de best-sellers ilegíveis e realmente apenas lidos por quem ignora de todo a arte de ler. resta-me a esperança de que o leitor, perante estes textos, concorde em que fui sempre, como dizia Thomas Bernhard, "na direcção contrária".
in LUZ CENTRAL de Ernesto Sampaio
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AS SACERDOTISAS DE ASTARTEIA
As sacerdotisas de Astarteia amam-se ao erguer da lua;
depois se levantam e vão banhar-se, num pequno lago de prata bordejado.
Com seus dedos recurvos penteiam os cabelos
e as suas mãos, tintas de púrpura, assim juntas a seus cachos negros
parecem ramos de coral num mar flutuante e sombrio.
Nunca arrancam os pelos, para que o triângulo da deusa
lhes assinale o ventre como um templo;
mas tingem-se com pincéis e profundamente se perfumam.
As sacerdotisas de Astarteia amam-se ao cair da lua;
e depois, em salas atapetadas onde no alto uma lâmpada de ouro brilha,
fortuitamente se retiram e vão dormir.
in AS CANÇÕES DE BILITIS de Pierre Louys
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