O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, março 04, 2002

O ABORTO?

Ainda há dias, um político qualquer a que nem tomei atenção a que partido pertencia – são tantos e tão divididos que nos perdemos completamente nesta bi-polarização dos mesmos! – dizia, sobre a questão do aborto, se as “feministas” se juntassem todas a despenalização do aborto em Portugal se concretizaria em termos mais correctos para as mulheres.
E eu pensei logo: se as mulheres todas de um país – já não digo do mundo! – se juntassem, o que não fariam se tivessem consciência do seu valor e do seu poder!
Mas como todas as mulheres do meu país e do mundo, continuam a falar a linguagem dos homens e se resumem a estar do seu lado, sem identidade e sem Palavra ou sem sexo na palavra, digo! nada será mudado, no meu país ou noutro qualquer!
A mulher não tem género para humanidade, como não tem identidade mesmo que tenha o seu bilhete dito de identidade em dia, ao contrário das muçulmanas que nem papéis têm! nem sequer registo como pessoas... Mas entre as muçulmanas sem nada e as católicas com registo e baptizado a diferença é muito pouca...
É a linguagem dos Homens que impera na vida e nas gramáticas e eu fico perplexa como é que mulheres inteligentes e cultas e evoluídas, catedráticas, médicas, juízas, artistas etc., aceitam AINDA falar e escrever em nome dos Homens quando num discurso qualquer falam do ser humano em geral e se incluem (ou não?) e em vez de dizerem para Humanidade e deviam dizer justamente (nós) Os Seres Humanos, dizem “O Homem”! Seria muito mais correcto e justo e ficava tudo incluído.
Mas como “academicamente” se convencionou há séculos que as mulheres não tinham inteligência nem alma, nem género na palavra que continua a ser no masculino, mesmo, evidentemente, estando dez mulheres e um homem devemos dizer nós no masculino... Facto que só é “equilibrado” com o discurso disparatado das “bichas” que falam tudo no “feminino”... É a lei das compensações, bastante patética não é ?... Nós dizemos de um grupo de dez mulheres e um homem: “eles vão todos passear”. Para não chocar a virilidade da linguagem... As “bichas” porém e que me desculpem o exemplo! se estiverem a ver um grupo de dez homossexuais masculinos dizem: “elas vão todas ao engate...”

Digam-me agora onde começam e acabam as perversões da própria linguagem...

(eu sei que a gramática não vai mudar por causa disso, mas seria interessante ver as mulheres a fazerem um exercício de presença e mudança subtil ao longo dos tempos...?)

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