Burgueses somos nós todos
ó literatos
burgueses somos nós todos
ratos e gatos.
Mário Cesariny
Mário nós não somos todos burgueses
os gatos e os ratos que tu quiseres,
os literatos esses são franceses
e todos soletramos malmequeres.
Da vida do verbo intransitivo
não é burguês é ruim;
e eu nas nuvens vivo
nuvens! o que direi de mim?
Burguês é esse menino extraordinário
que nasce todos os anos em Belém
e a poesia se não diz isto Mário
é burguesa também.
Burguês é o carro funerário.
Os mortos são naturalmente comunistas.
Nós não somos burgueses Mário
o que somos todos é sebastianistas.
(...)
Meu útero pátria emergente
Para nascer e ser saudável;
Amado meu que não foste a meu lado
Encoberto nuvem espectro
Ausência que sulcou meu leito
Único mediúnico tecelão
Entrelelaçados os fios inefáveis
De meus olhos minhas coxas meus cabelos
Minhas carícias país irrevogável
Onde o amor fornece o ar como um pulmão!
Invoco-te, irmão amigo amiga!
Pessoas dispersas da trindade
Que nunca foi pessoa verdadeira
E que fabricas solitária formiga
O tecto a mesa o sorriso a brasa
A rosa do calor de nós dois à lareira;
E a vós também invoco, ó deuses
De religiôes que alegram, as futuras!
Nossos Senhores imanentes seminais
Germinações de criaturas
Com quem depois vos misturais
Para que o óvulo da mistura
Se forme a ave-maria a pura
Entre os mortais
(...) um poema e excerto de outro
de Natália Correia
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