O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, abril 11, 2008

Democracia ou Falocracia?

A QUALIDADE DESTA DEMOCRACIA

“Uma jornalista apresenta um projecto de documentários a uma produtora de audiovisual. A produtora acolhe o projecto e apresenta-o a um canal público de TV, que encomenda os documentários. Um partido político resolve tratar esta decisão como uma "contratação" da jornalista para o canal público e qualifica-a de "pornográfica", anunciando um "requerimento" para "pedir explicações". E que apresenta o partido, como fundamento de tão trepidante indignação e fino palavreado? A inexperiência televisiva da jornalista (falso); as suas opiniões (intolerável); a sua vida privada (abjecto).” (…) Fernanda Câncio dn.opiniao

Não é só a uma jornalista, a quem isto e coisas muito mais graves acontecem…pode ser a uma deputada ou qualquer outra mulher que por alguma razão se destaque ou faça frente à ordem social (masculina), que se afirme no domínio do macho e invada as suas “coutadas”- lugares por suposto interditos a mulheres capazes à excepção de mulheres submissas e sem voz activa…
A perseguição às mulheres, caça às bruxas de forma atenuada, é uma constante na nossa sociedade e sobretudo na política onde são alvo fácil; é lamentável que essas mesmas mulheres de qualidade e competentes não o percebam do ponto de vista psicológico como o homem, ao nível do seu inconsciente e dos seus medos atávicos se sente ameaçado pela sua presença e reage. Sim, não entendo como é que mulheres inteligentes não se apercebam desses factos…O facto é que a sua cisão interior (fragmentação psicológica em estereótipos) e a sua própria masculinização, fidelidade ao pensamento cartesiana, não lhes permite mesmo ter acesso a uma dimensão maior do seu Ser Mulher…Assim, sejam os motivos de ordem política, económica ou religiosa, que as reprimem ou violentam, as mulheres não se apercebem que as causas são sempre psicológicas, pois elas se identificam com o pensamento masculino. Sendo essas causas maioritariamente de ordem subjectiva, onde predominam a inveja e o ódio ancestral à mulher e que se mascaram das mais variadas razões…razões sempre emotivas que no domínio privado se manifestam na violência doméstica, no profissional na coacção ou no assédio sexual; na vida pública onde os velhos conceitos são falseados de liberdade e direitos iguais, as razões tornam-se obscuras e inconscientes, mas são sempre de foro histórico, sexual e psicológico.
O homem não suporta ser ultrapassado por uma mulher inteligente e se for bonita, como é o caso, ainda menos. A não ser que se lhe submeta na cama. Qualquer mulher que fuja aos padrões machistas e falocráticos é sujeita a escárnio e perseguição mais cedo ou mais tarde…rlp
(…)
”A coisa está bem entendida, segundo o silogismo: um homem é um ser humano; uma mulher não é um homem; logo uma mulher não pertence à humanidade, pelo menos não inteiramente, pelo que se enquadra nessa natureza que é preciso dominar. O discurso pode situar-se sem problemas de continuidade das afirmações da misóginas multisseculares e, entre outras as dos demonólogos. Com a diferença de que, em vez de matar as bruxas, é preferível sujeitar preventivamente, através da lei, todas as mulheres vivas. E, para o fazer, recuperar todo o poder outrora atribuído ao Diabo, que seria uma estupidez desperdiçar. É sobre estas bases que se estabelece o Estado moderno, macho, como Satanás. Vamos ver como, para os promotores da moderna teoria política, e para os seus sucessores, a questão política assenta directamente na da relação entre os sexos; e depois como, de uma forma mais ou menos disfarçada, O Estado incorpora o mal na sua própria definição, a ponto de se transformar em Leviatão.”*


“Da mulher, a Fortuna possui, pois, o principal atributo, a inconstância, e Maquiavel representa-a como uma roda. Ora esta imprevisibilidade é ao mesmo tempo característica feminina e principal traço de Satanás.
(…)
Para Maquiavel, é esse formidável poder da roda que os homens devem dominar, para a fazer girar no sentido desejado. Logo, dominando a mulher, à pancada se necessário. Tal é o sentido da célebre fórmula de o Príncipe: “A Fortuna é mulher, e (…) é preciso, para a manter sujeita, bater-lhe e magoá-la:”*


In AS PUTAS DO DIABO - uma História da Bruxaria – Arnelle Le Brás_Chopard

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