O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, abril 25, 2008

"dia inicial, inteiro e limpo"

O 25 DE ABRIL
EU TAMBÉM ESQUEÇO...


(...)
Porque antes da democracia a esmagadora maioria dos portugueses vivia mal. Havia miséria como não há, nem por sombras, hoje. Havia pobreza como não há, nem por sombras, hoje. Há gente a viver mal hoje, idosos com reformas miseráveis. Mas antes da democracia não havia sequer reforma garantida para todos - lembram-se? E podia não haver carjacking - não havia sequer carros que chegassem para isso - mas havia tropa obrigatória, lembram-se? E minas nas picadas, e emboscadas na selva. Quantos portugueses morreram, obrigados, na guerra? Quantos voltaram deficientes? Quantos tiveram de fugir para não serem enviados para África? Quantos fugiam, "a salto", para tentar uma vida melhor no estrangeiro? Quantos morriam de medo de dizer alguma coisa errada que os levasse a serem considerados anti-regime, a perder o emprego, a serem presos? Era seguro, ser português? Era seguro, viver numa ditadura?
Há, claro, sonhos que se perderam e traíram. Não somos todos felizes - mas só nos cartazes das ditaduras toda a gente sorri. Os amanhãs cantaram, mas desafinados para muitos ouvidos. Desafinam ainda, e ainda bem - porque agora depende tudo de nós, e cada voz canta diferente. Sobretudo, não me digam que "há medo de falar" nem usem a palavra "fascismo" a torto e a direito. Porque é ridículo, demasiado ridículo, mas porque, sobretudo, é um insulto a todos os que realmente souberam o que era ter medo e viver num regime totalitário, todos os que no "dia inicial, inteiro e limpo" de Sophia se sentiram, enfim, inteiramente inteiros. "

in DN Fernanda Câncio

É verdade Fernanda, obrigada por me lembrar; também eu tive medo e nem sequer se podia falar e acabei por fugir à Pide ao ser perseguida por dizer poesia nos comícios quando da luta para que as mulheres pudessem votar...Sim nesse tempo as mulheres nem tinham direito a voto...
É que eu às vezes também esqueço apesar dessa abissal diferença, e no meu caso ter liberdade de expressão e poder escrever o que quero...é a grande liberdade.

Sim, lembro-me bem do medo onde quer que fosse...e lembro-me do terror da minha mãe quando a Pide foi a minha casa investigar-me...felizmente já não estava!

2 comentários:

kermit disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
kermit disse...

Ainda hoje no Rádio Clube Português ouvi alguém dizer, acerca do carisma que os políticos da altura tinham e que os de hoje não têm, que ele advinha da coragem que na altura era uma "coragem" física. Hoje, democracia instalada, já não é preciso coragem física, apenas coragem intelectual, porque já não há exílios nem censura, nem polícia do estado. Aos que fizeram o "Abril de 74" resta-nos pelo menos lembrarmo-nos deles, pelo menos nesta data e, por maior obrigação, os que, como eu, não viveram esse tempo.