O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, abril 12, 2008

O SEXO DO MEDO...

Neste espaço dedicado a Mulheres & Deusas, poucas ou raras vezes falei da sexualidade da mulher…primeiro porque não é o meu propósito, depois porque a sexualidade é usual e infelizmente o único aspecto da mulher que é exaustivamente focado, quer por mulheres quer principalmente por homens…

Eu sei que a sexualidade é igualmente o foco principal da existência humana nesta cultura patriarcal e que a trata, tal com à mulher, de uma forma redutora e deformada. Nem os homens nem as mulheres conhecem verdadeiramente a sua sexualidade e estão longe de a aflorar sequer no seu imenso potencial, pois o que conhecem refere-se apenas a uma dimensão mecânica e orgânica, uma sexualidade primária e obscena sem dimensão espiritual, nem profundidade.
Primeiro que tudo porque não tendo a mulher acesso à sua essência nem consciência da sua dimensão ontológica não pode vivenciar para lá do que lhe é permitido - de bem e mal, de medo e de afronta - e consentido pela sua (de)formação e liberdade falseada e assim ambos os sexos estão muito longe e separados da sua real capacidade de amar.

O que a humanidade vive como amor é uma vaga manifestação de um potencial que foi completamente controlado pela Igreja e pelo Estado em função quer de preconceitos e tabus quer de vários interesses, o principal, manter a mulher prisioneira para assim a controlar melhor e a colocar ao serviço exclusivo da procriação e da propriedade privada. Sendo a sexualidade um Portal para níveis cósmicos e consciência transcendente do ser humano, também a invisível Matriz de Controlo, tudo fez, através DO TERROR, DO MEDO E DA PERSEGUIÇÃO das mulheres pelos seus dignitários religiosos, para a impedir de se expressar na sua totalidade e para isso dividiu a mulher em dois tipos de mulher criando os estereótipos da esposa e da prostituta. Ao dividi-las tirou-lhes todo o poder e pode assim controlá-la ao longo dos séculos…Assim, à prostituta tudo foi permitido e o que ela simboliza está obviamente ligado à ideia cristã do pecado e dissolução de uma moral de suporte da instituição casamento, dando lugar à exacerbação do sexo pelo sexo e consequentemente à pornografia ao deboche, ao sado-masoquismo, fora do lar, todos eles à custa de valores reais e da dignidade da mulher em si.

Esse fosso criado e mantido entre a mulher-esposa e a mulher-prostituta fez com que a cultura romântica e cinematográfica e não só, difundisse essas imagens da mulher sempre em oposição e conflito, sempre em antagonismo, até ao momento actual em que a mulher comum e a doméstica se aproximam mais dos valores da prostituta, do que da esposa, distanciando-se esta dos seus valores clássicos…Em nome de uma suposta liberdade sexual, onde se incluem então os artefactos e sucedâneos de prazer e estímulos com objectos e práticas fictícias do prazer verdadeiro, a mulher caminha para mais uma inversão do seu ser sem reunir as duas partes cindidas. E o problema não está na liberdade nem na afirmação sexual da mulher, seja ela qual for, nem dos valores que à partida a separa das outras mulheres, e que em si não são nada, mas no facto de essa liberdade não acordar a mulher para si mesma enquanto ser completo, nem a aproximar da sua verdadeira essência nem ao fim e ao cabo da sua verdadeira sexualidade. E aí se renova o drama…e estas mulheres que se julgam emancipadas através de simulacros do prazer e do amor livre ajudam o status quo…ajudam a continuação da sua divisão invertendo os valores que as dominam e para o Estado e a Igreja não faz a menor diferença, desde que a mulher não seja Ela Mesma nem tome posse do seu real poder interno. rlp

1 comentário:

M. Cambará N. disse...

A assunção desta mulher detentora dos próprios princípios formula um rompimento com os propósitos mercantilizadores da sociedade atual. Ao assumir essa busca associo dois tipos de postura explícitas que são, por um lado desmotivantes: o medo do masculino dessa nova postura feminina (que não me parece nova, apenas natural) porque não sabem o que fazer com uma mulher que eles não foram criados e orientados a conhecer e, num segundo plano, o reconhecimento feminino de seu lugar único e intransferível o que nos conduz ao sentimento de solicitude, um estado de presença-ausência do mundo e, principalmente, do convívio social comum, ordinário.

Questiono-me:a mulher, reunida a este estado feminino natural, é a mulher a permanecer pouco alcançável e pouco atingível? Como regular essa mulher que é colocada fora dos parâmetros do patriarcado convivendo socialmente?