O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, janeiro 06, 2002





(...) “Era horrível senti-la tão bonita.
Linda, mutável, fraca, inteligente, compreensiva, bruta, egoísta, era inútil fingir que ela não era bonita, ela penetrava no meu coração como uma faca doce.” (...)
CLARICE LISPECTOR

*** ****
PAIXÃO

Estou tonta de ti, bêbada ou anestesiada.
Já nada de mim sei: só sei que és doce e linda
E que te trago no peito como uma faca cravada.
Se me mexo, dói mais, mais se crava;
Se resisto, enterra-se como uma adaga.

Sou como um palhaço a gesticular num circo vazio
Dando saltos no ar para mais tonta e bêbada de ti ficar.
Já nem sei o que vejo, entre lágrimas, esgares e risos...
Sei que és doce e linda e rodopiando
nesta lenta agonia, caio no chão estatelada.

Mas o espectáculo tem de continuar!

Tu entras, dás-me a tua mão, e eu de novo me ergo em pontas
E começo a dançar... a dançar ... a dançar....



*** ****


Ó dia, ergue-te! Os átomos dançam,
Dançam as almas, perdidas de êxtase,
Em segredo digo-te onde nos leva esta dança.
Os átomos todos no ar e no deserto,
Aprende-o bem, são como loucos de perdida razão.
E cada átomo, seja feliz ou miserável,
Possui este sol do qual não se pode falar.

RUMI – Cânticos do Sol

***** ******



POESIA DO ANTIGO EGIPTO

Poemas datados de entre 1567 e 1085 ª. C.
(em versão livre da adaptada)

III

Tê-la visto,
Tê-la visto aproximar-se
Com tanta beleza
É alegria para sempre no meu coração.

Nem a eternidade pode retirar-me
Aquilo que a sua visão me trouxe.


IV

Quando me dá as boas vindas
Com os seus braços abertos
Sinto-me como aqueles viajantes que regressam
Das longínquas terras de Punt.

Tudo se transforma; o meu pensamento, os sentidos,
Em perfume rico e exótico.

E quando ela entreabre os lábios para beijar
Fico com a cabeça leve, fico ébrio sem cerveja.


V

Se eu fosse uma das suas aias
Sempre às suas ordens
(nunca afastada mais que um passo)
Poderia admirar
A resplandecência do seu corpo todo.

Se eu fosse quem lhe lava a roupa, por um mês,
Seria capaz de lhe retirar dos véus
Os perfumes que neles se entranham.

Por menos do que isso assentaria (a minha vida) de bom grado
E o seu anel seria, o selo no seu dedo pequeno...


***** *****

Sem comentários: