O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, janeiro 19, 2002

O MUNDO NOVO E O MUNDO VELHO

Estamos entre dois mundos... Um mundo velho que se esvai em convulsões e agonia, que mata os seus filhos, que dilacera. Estamos no fim de um mundo que era só razão e excluía sentimentos e intuição e em que a luta das mulheres quase que foi em vão...Houve desvios culturais na história da humanidade que a prejudicaram mais directamente na falta de verticalidade e dignidade a que foi sujeita, mas que prejudicou directamente também os seus filhos... O homem tem de recuar na sua força e prepotência, tem de abandonar a sua arrogância e violência e aprender a amar e respeitar a mulher. Porque sem a mulher no seu papel mais elevado de ser individual antes de ser amante ou mãe, nunca a humanidade se vai libertar da sua escravidão. Porque a Mãe da humanidade está dividida em duas metades uma contra a outra no mundo inteiro. Uma dualidade perpetuada por valores de superioridade e inferioridade cabendo à mulher sempre o papel inferior e negativo... Os homens quiseram assumir a paternidade do mundo, mas só geraram a divisão e o ódio entre irmãos... Dividiram terras, países bens e mulheres!
Este é o velho mundo do amor e do ódio sempre em alternância e sem descanso.
Todas a escravidão exercida pelo homem começou com a escravidão da mulher e porque a Mãe faltou, votada ao silêncio e ao descrédito, os homens destruíram o mundo pela guerra. A mulher sofreu tanto ao longo destes milhares de anos que nada poderá justificar, nem a razão nem o pecado, nada justifica esse sacrifício inaudito. Apenas a loucura e prepotência dos homens que não viram que o seu poder era usado em cima do sacrifício da própria Mãe e que eles seriam as SUAS vítimas mais próximas. E se houve um crucificado nesta história que tão mal nos foi contada, não foi Cristo, mas a Mulher!

Todo a face do mal deste velho mundo em estertor, dividido em duas metades, foi projectado na mulher. A mulher foi a cobaia e o bode expiatório de todos os homens, mesmo dos escravos e é preciso que isso fique claro de uma vez por todas, pois só depois de se compreender este erro crasso contra uma metade da humanidade, em que ainda compactuamos todos, homens e mulheres, o mundo chegará a um novo consenso e atingirá uma nova consciência. Essa Consciência nada tem a ver com a velha consciência da moral e dos costumes, nem com a ordem patriarcal vigente neste podre mundo, mas com uma consciência alargada e não linear. Com uma nova visão do mundo e da mulher, um novo mundo se aproxima.

O universo dos homens foi a razão, o intelecto: análise e separação. O universo das mulheres é a intuição, o sentimento: percepção e síntese. Estes dois mundos têm de se encontrar e cruzar dentro de cada ser.
Cabe à mulher o papel de mediadora uma vez liberta das suas peias e de posse do seu dom de iniciadora, tanto do amor do filho como do amante, pois a mulher é iniciada por natureza e essa é a sua função: Amar e Ser igual a si mesma.

Abrem-se agora as Portas de um novo mundo, uma nova aliança com o Cosmos se a Deusa voltar e com ela a criança sagrada.

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LABIRINTO

Abrem-se as Portas.
Uma pequena e frágil criatura de outro mundo
Muito mais pequena e frágil do que as enormes portas,
Empurra com o seu corpo de pele e túnicas
Um imenso Portal desconhecido.

As suas vestes são brancas e diáfanas, as suas mãos delicadas,
Mas firmes nos movimentos
Quando abre as portas ou me toca nas costas:
È Ariana.
Um fio invisível pende da sua cintura fina como se ela fosse
Um rolo de seda a desfiar no labirinto do tempo,
No espaço recôndito que ela na minha alma atravessa.

São quarenta e duas portas das quais ela tem a chave,
A chave secreta com que abre o meu coração.

Numa das mãos traz o bastão com que ilumina o caminho.
Enquanto caminha, vai dizendo
Que eu tenho de alquimizar o tempo,
Que no tempo não há resposta,
Que é no silêncio do nome que eu me encontro.

A resposta que eu quero está no céu da sua boca
Ela própria é uma porta e a sua palavra sagrada.

(In” Mulher Incesto”)

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"Morrer é a curva da estrada.
Morrer é só não ser visto

Fernando Pessoa


À memória viva de um irmão que partiu...


Fórmula para não morrer de novo.

Palavras ditas por Osiris :
Ó Tot, que falta fazer às crianças de NUT ? Elas fomentaram a guerra, suscitaram querelas, causaram desordem, fomentaram a rebelião, massacraram, procederam a
prisões, em suma, abateram o que era grande, em tudo o que criei. Demonstra a tua força, Tot - ,
diz Atum.
- Tu não deves tolerar o erro, não deves sofrê-lo! Encurta os seus dias, retira os seus meses, porque eles secretamente destruiram tudo o que tu criaste!

- Eu estou de posse da tua paleta, ó Tot, e eu trago-te o tinteiro. Eu não estou entre estes fazedores de secreta destruição; é por isso que não me destruirá, uma morte rápida não terá poder sobre mim.

In O LIVRO DOS MORTOS DO ANTIGO EGIPTO

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Cipris, e vós Nereides, fazei com que
regresse salvo meu irmão, e tudo
quanto deseja seu coração se cumpra.

De tanto erro antigo desatai o nó:
que seja para os amigos alegria,
para seus inimigos, inquietação.
(...)

SAFO -Fragmentos



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