O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, janeiro 11, 2002




A MULHER CELTA

(...)

"As sociedades mais arcaicas deram uma importância particular à Mãe e, portanto à Mulher. A tradição hebraica que rebaixa a mulher e faz de Deus um solitário ao mesmo tempo macho guerreiro e pastor, a religião islâmica que se inspira nessa noção, são concepções nómadas relacionadas com a secura do deserto. O ponto culminante do rebaixamento da divindade feminina foi sem dúvida período em que Roma impõe ao seu Império não somente o seu regime patriarcal, mas, também o seu formalismo religioso incrivelmente estéril e o qual é herdado em parte pelo cristianismo dos primeiros tempos. Mas no interior do cristianismo, e debaixo de influências misturadas de cultos orientais, como o da Deusa-Mãe Síria, o de Isis, o de Cibele, o de Deméter, e dos cultos druídicos que davam à mulher um papel dos mais importantes, o conceito da Virgem Maria não iria demorar e retomar vida. E de tal maneira que hoje em dia, o culto da Virgem está em vias senão de ultrapassar o culto de Jesus, no mínimo de o igualar. É um sinal dos tempos, e que não deixa de ter relação com o afundar da noção Pátria, em oposição com a antiga e sempre actual Mátria, que, com efeito, se manifesta em numerosas tentativas de unificação supranacional no seio de uma tradição comum. Os povos, ameaçados de seca, viram-se para a senhora das águas, a Mãe. E é a Mãe na maioria das línguas, e também Mar(ia) que é ela mesma o Mar.

Esta volta para a Mãe (Mar), quer seja considerada sobre o ponto de vista psicológico, ou o ponto de vista político, precisa ser indubitavelmente ligado ao acto sexual. O acto sexual é com efeito, com toda a clareza, uma tentativa brutal do homem para retomar lugar no ventre da mulher, e para a mulher uma tentativa de retomar a sua criança desaparecida (e isto inconscientemente numa mulher mesmo que não tenha tido ainda nenhum filho). (...)

“No acto sexual e no de fecundação que se encontra estreitamente ligado, fusiona-se numa só identidade, não somente a catástrofe individual (nascimento) e a última das catástrofes da espécie, mas também, todas as catástrofes sofridas desde a aparição da vida; portanto o que se exprime no orgasmo, não é somente a calma intra-uterina e uma existência apaziguadora, assegurada por um meio mais acolhedor, mas também a calma que precede o aparecimento da vida, quer dizer a paz morta da existência inorgânica” in Le Mythe Celtique de l’origine (Do livro de Jean Markale, “La Femme Celte”).


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“Vi, Senhora, dias sombrios, meses tristes e anos de ânsia.
Vi, Senhora, catástrofes, desordens e violências”.


Senhora minha, Mãe misericordiosa,
Neste mundo eu sou todas as mulheres
Que neste planeta sofrem há milénios...
Sou a vagabunda, a prostituta e a louca...
Sou a inválida, a doente, a desgraçada e a histérica;
Sou a mulher árabe condenada a cobrir o rosto
Proibida pelos homens de falar, sorrir e olhar.
Sou todas as mulheres perseguidas e queimadas
Nas fogueiras da Inquisição, que eu não esqueço!

Senhora dos Oráculos, dá-me a tua Visão de Paz e Amor
Ouve a minha prece: vem a este Mundo e impera!
Ó vem e salva a terra e a nós mulheres, desta barbárie.


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SOPRO VITAL

Eu sou a tua coroa
e o teu diadema
A Rosa que se abre no meu peito
Quando o ar que pela tua boca
respiro
Entra na minha
e te beijo...

Amar-te mais não posso,
nem mais nada deste mundo desejo.
Porque és tu ó Deusa Mãe
quem desde sempre vive
e respira dentro de mim...

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MÃE ÁGUA

Senhora dos abismos profundos,
Luz que vem das trevas e nos ilumina...
Queria-te como um manto que me cobrisse o corpo
E me tapasse do frio e da dor...
Queria que fosses outra pele que se colasse à minha,
E me enrolasses como um feto antes de nascer...

( ...esquecer que me separei de ti...)

Queria Ser o Uroboros,
Voltar ao seio da Grande Mãe e (a)Mar...
Queria dançar no teu ventre a alegria dos sentidos mais puros,
Ao som do teu coração tão perto...

Viver na memória do átomo, ao ritmo do cosmos,
Na beatitude das tuas águas matriciais,
No próprio pulsar do universo, para sempre tu e eu Mãe eterna.


"ANTES DO VERBO ERA O UTERO"
 rosa leonor pedro

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