O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, maio 15, 2008

NO PAÍS DA FUMAÇA...


OS PORTUGUESES PREOCUPAM-SE MUITO COM QUEM FUMA NESTE PAÍS PEQUENO. É TUDO O QUE CONTA: O FUMO...DO 1 MINISTRO OU DO PRESIDENTE...E ESTA NÉVOA ENVOLVE-NOS A TODOS; ESTA FUMAÇA, É A NOSSA MISÉRIA...

...O QUE SERIA SE UM VULCÃO EXPELISSE AS SUAS CINZAS SOBRE A CIDADE?

Os portugueses são normalmente (ou devia dizer anormalmente?), quase todos complexados e provincianos…e ignorantes claro! E ignorantes, porque quando o não são, são arrogantes e convencidos…Já sabemos isso há muito tempo. É a nossa idiossincrasia…Mesmo os intelectuais e os escritores, salvo raras e honrosas excepções, vivem como qualquer português mediano encerrados na sua quadratura, na sua mesquinhez, ao seu “nível” claro, uns com muita outros com pouca informação, mas por isso mesmo desprezando o seu próximo que é o mais próximo do seu nível, seja do partido seja do clube...
Basta alguém sobressair-se de algum modo no panorama geral, um passo que seja à sua frente, e pior ainda se for mulher, para ser logo atacado e reduzido a zero à esquerda.

O axioma português preferido parece ser:

“despreza o próximo como te desprezas a ti próprio”.

Vemos esse desprezo colectivo, na nossa vida diária, no que nos resta dela, na falta de respeito pelo outro, da indiferença à estupidez, na maldade gratuita, na falta de educação do cidadão que cospe para o chão, no culto do oportunista, dos que singram na vida, na vaidade saloia do que está por cima e se vinga do vizinho de baixo, mas vemo-lo agora claramente na política, à esquerda e à direita, sempre pautada pelos sentimentos mais baixos e mesquinhos. Tal como no futebol, com as suas claques, os políticos com os seus “barões” cada vez mais se confundem os seus líderes e os seus presidentes cujo perfil difere pouco de nível, afinal de contas, sendo iguais aos seus semelhantes, passo a redundância, nas suas manifestações partidárias ou clubistas…

Já não há fascismo nem ditaduras, não, nem é preciso: basta o controlo dos Media.

(…) “ A televisão desqualifica tudo o que se não passa na televisão, quer dizer a maior parte da vida dos homens. E eis que aquele que julgava devorar o mundo pelos olhos não experimenta mais do cada minuto, a sua total impotência perante um mundo do qual depende a sua vida.” *
É sem dúvida o mundo mediático, e os seus directores (?) o único que nos governa ao fim e ao cabo, que faz gala em exibir tais indivíduos que em tudo se lhes compara, na sua banalidade e mediocridade, posto que são eles que os promovem e elegem fazendo-os passar por sérios e competentes, na sua demagogia ou prosápia. E fazem-lhe grandes entrevistas e destaques…
Sim é nesse mundo mediático em que tudo nos é servido de bandeja por programas escolhidos para nos moldar o carácter e programar a vida, ou fazer votar, sem nos deixarem escapar, e em que somos mantidos prisioneiros por técnicas de controlo consumista e político, que um simulacro de vida se passa quer nos programas mais sérios de debate, ou de entretenimento, quer nos noticiários, quer ainda nas telenovelas que variam pouco ou nada de qualidade entre o que é verdade e o que é falso. Aliás, antes dos noticiários anunciam-se acontecimentos mundiais a par dos acontecimentos da telenovela da noite…género:
“veja o que aconteceu à Margarida que matou o pai à
pancada ou hoje a mulher australiana sequestrada durante 24 anos e violada pelo
pai desde os 11 de quem teve 6 filhos. Não perca, às oito”.

E assim começam as informações em tom de grandes acontecimentos…
“Na sua lógica actual, o sistema televisivo vampiriza a interioridade das pessoas. Ele esvazia cada um da sua substância, para o encher das suas exibições fictícias. Ele mata a cultura na forma como a celebra. Certo, vão-me objectar, por vezes há “boas” emissões, como há imensas pessoas que sabem usar de modo restritivo e selectivo a caixa das imagens. A essas objecções responderemos (...) que a televisão é tanto ou mais nociva quanto mais o não é às vezes, porque sem qualquer sombra de dúvida, ela caminha hoje globalmente num sentido de escravidão mental dos povos.” *

*François Brune, auteur de Les médias pensent comme moi ! (L’Harmattan, 1997)

2 comentários:

Marian - Lisboa - Portugal disse...

De facto se tudo o que refere é escandaloso, há algo que pura e simplesmente a nivel pessoal me deixa sempre atónita pelo mau gosto -e mau jornalismo...
dar nas notícias do telejornal as ultimas peripécias da novela da noite... (regra geral exemplar o mais deprimentes possivel tal como o sao na generalidade os scripts das novelas-aberração que por aí rolam a todas as horas e apenas visam como industria que são, o maximo lucro para os criadores e participantes. Tambem funcionam como cativação da frustraçao do cidadao médio que se auto-condena a uma masturbaçao emocional de sentimentos na sua perfomance mais mesquinha: invejas, intrigas, interesseirismos e golpes baixos são a tónica, alem de muitos segredinhos para poder dizer o eterno "coitadinho/a merecia ter mais sorte" tao caro a um certo espirito nacional-popular.

Quem já chegou aos "intas ou entas" deve lembrar uma certa literatura dita feminina de qualidade extremamente mediocre que perpetuava a cultura da princesa encerrada na torre à espera do cavaleiro que a iria salvar já que ela jámais seria capaz de o fazer sozinha... rss.
O sapo, perdão o cavaleiro, era sempre arrogante e infinitamente seguro de sí. Quanto à princesa claro era feminina/tremula e chorosa (tudo isto no mesmo saco) e desmaiava sem forças sempre que era beijada após tentar sem esperança resistir com uns protestos físicos e vocais muito débeis, quase inaudiveis.
Depois de se render ao cavaleiro e dele depender em tudo, ele a protegia tambem de tudo...
Habituada a outras andanças e posturas quando descobri essa
"literatura" abismei, e reparei que muitas criaturas femininas se alimentavam e reviam nela... Acho que havia até barraquinhas para troca desses livrinhos intoxicantes: corin tellado, carlos santander e barbara cartland entre outros eram os autores.
Nao admira portanto que geraçoes de mulheres deseducadas e condicionadas sistematicamente por este e muitos outros motivos, para uma cultura de fraqueza e dependencia e homens deseducados para uma postura de vitoria a qualquer preço produzam seus monstros como o caso dos austriacos e tantos, tantos outros...
Felizmente agora já temos a Lara Croft... e não só!
Marian

rosaleonor disse...

Marian:
eu já me tinha esquecido disso...desses livros e dessa contaminação - única anestesia para as desgraças das mulheres e as suas frustrações...nesse tempo não havia telenovelas nem os cantores românticos eram tão famosos ou acessiveis...para as mulheres poderem sentir esse consolo ilusório...
rl