O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, março 03, 2007

A MULHER É INICIADA POR NATUREZA



A MULHER COMO INICIADORA


Poderia parecer uma enorme pretensão afirmá-lo mas não é. Há muito que sinto e sei que a mulher é iniciada por natureza e só a separação ou cisão sofrida bem no seu âmago e mantida ao longo dos séculos, criou a divisão da mulher em dois “arquétipos” ou dois estereótipos, a mãe e a prostituta, (apagando a mulher velha, a sábia da história) segundo o modelo redutor da igreja católica. Assim, sofrendo uma negação completa do seu ser mal nasce – é uma menina – é logo condenada ou mesmo morta (na Índia e na China) - e ao longo da sua vida sujeita aos processos da sua exposição como mero instrumento ao serviço do homem e da sociedade patriarcal, seja à família e aos filhos, em que só um Princípio, o masculino, yang, a vontade do pater, o mais forte é padrão e determinante. Assim a mulher sofre desde logo como que uma amputação séria e profunda no seu ser integral à medida que é “preparada” (na sua anulação anímica e psicológica) para fazer face às exigências e condições impostas por uma sociedade exclusivamente masculina que acorrenta a mulher às suas instituições estatais e dogmas religiosos. As mulheres que não se conformavam ou que se extraviam da sua “sorte” eram e são ainda marginalizadas e duramente castigadas no abandono social ou prostituídas , exploradas por Mafias e “perseguidas” pelo Clero.

Deste modo, a “Descida da Deusa”, o Princípio Feminino, yin, como símbolo de interiorização e descida ao conhecimento profundo do SI, ou antes à sabedoria inata da mulher que é inerente a esse principio foi e é-lhe negada – tendo sido apagadas todas as referência a Deusa Mãe da antiguidade da história dos homens pelo cristianismo - e deste modo a verdadeira dimensão da mulher foi relegada para os confins da mente inconsciente, a que poderíamos chamar e os fanáticos chamam o inferno, onde intimamente a mulher trava as maiores batalhas dentro de e fora de si, sem saber a origem do seu próprio conflito, pagando mais tarde ou mais cedo o preço dessa anulação da sua consciência e integridade como ser pelo impedimento do acesso natural ao seu ser mais profundo, a mulher ctónica e sofre-o bem na sua pele, através das várias doenças – nomeadamente as doenças ditas de foro feminino - quer a nível físico quer a nível psicológico, consequência da negação do seu verdadeiro “self”…Sendo o primeiro sintoma dessa negação de si mesma a famosa e apregoada histeria…que os psicanalistas tentaram debelar…em vão. Eles não sabiam ou não queriam ver a divisão interior e social da mulher. Não, nem a velha ciência nem a velha psicanálise se debruçou seriamente sobre essa divisão da mulher… As mulheres não devem nada a Freud nem aos médicos! Bem pelo contrário.

Só Jung realçou a importância de tanto o homem como a mulher integrafrem a sua sombra e descerem às suas profundezas a risco de nunca alcançarem a essência do SER nem a Sabedoria, ou como ele lhe chamou a individuação. No entanto ele não tocou no problema da divisão “intrínseca” da mulher nem falou nessa cisão fracturante da sua personalidade. Algumas mulheres yunguianas sim têm-se vindo a aproximar do cerne do problema, mas ainda ninguém apontou essa cisão como a causa fundamental do drama da mulher nos nossos dias. O conhecimento que as mulheres podem atingir senão houver a consciência dessa sua divisão e uma integração real da sua natureza ontológica, cósmica e telúrica, é meramente intelectual e mental e não passa de informação teórica sobre a espiritualidade, sem nenhum efeito real na sua vida.

A importância dos dois princípios, Yin e Yang, feminino e masculino, e a sua fusão dentro e expressão fora é fundamental porque sem ela não há verdadeira espiritualidade nem no homem nem na mulher, embora existam vias diferentes. Só o Tantra Yoga e a Alquimia consideram a mulher importante na realização. No entanto, para um verdadeiro equilíbrio e estabelecer a paz no mundo é importante a noção de que se o homem atinja por si o Conhecimento-razão, sem o feminino, que normalmente ele nega ou inverte, não atinge a Sabedoria que corresponde à sua parte feminina e instintiva e que só a mulher lhe espelha. O homem sem a mulher tal como não concebe o “filho”, também não realiza a OBRA, não atinge o seu fim. O grande problema existente na espiritualidade em geral é saber se abrange a mulher enquanto ser ou se isso corresponde a uma enorme lacuna na informação dos caminhos da mulher para a espiritualidade, se é que existe uma via específica para a mulher que não passe pela sua própria natureza ontológica. Portanto o nosso ponto é que se a mulher não unir em si as várias partes de si divididas pelo monstro Igreja, (como eterna condenada pelo pecado da humanidade a ela atribuído) não alcançará o seu dom de iniciadora nem poderá tão pouco encontrar a sua integridade como Mulher para poder partir então para integração dos dois em um, e tudo o que faz na busca desesperada de si mesma é imitar o homem, seja no caminho do conhecimento humano seja na espiritualidade. Aí ela é apenas a “costela” de adão…e assim continuará a ser – serva do Senho assim na terra como no Céu…

Portanto e para chegar à verdadeira espiritualidade a mulher tem de reunir as suas partes perdidas tal como Isis reuniu os pedaços de Osiris, cortados por Seth seu irmão. No caso da mulher, foi a Igreja secular que cortou a mulher aos bocados; “excisou” a alma da mulher-essência (muitas sociedade mais primitivas, chegaram mesmo à excisão do clitóris da mulher) para assim poderem eliminar a Deusa e o instintivo, impedindo-a não apenas do “prazer” mas do acesso à sabedoria inata que lhe é inerente pela sua totalidade na representação da Deusa Tríplice e da Natureza. Sim o sexo é a matriz da vida e como tal é iniciação e caminho de sabedoria. Ao negar a sacralidade do sexo e da mulher a Igreja sabia que assim podia e pode garantir o domínio absoluto da força do seu poder misógino e imperar pelo medo do seu deus castrador e vingativo.

rlp
 

1 comentário:

Ná M. disse...

Minha mãe, apesar de sempre parecer menor aos meus olhos do que meu pai,devido a cultura, não tinha os impulsos infantis que ele tem... A mulher DEVE guiar o caminho....